segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Dia 24/12/2012 - Pela manhã uma decepção, mas a tarde compensou (um Natal em San Pedro)

Na tarde anterior, ao contrário da bela manhã, o céu havia ficado nublado, mas quando se diz nublado, não é aquele nublado de chuva, são nuvens de altitude que encobrem o sol. Eu havia tirado uma foto da lateral da igreja de San Pedro, mas não ficou boa, faltava luz. Então fui bem cedo ao centro, e refiz a foto do dia anterior, agora com a luz que eu imaginava, pois o dia amanhecia lindo.

Adoro caminhar por ruas silenciosas com as primeiras luzes do dia, por isto não sei quanto tempo demorei, quando voltei o André estava acordado.

A mesma foto, porém agora com a luz certa
Igreja de San Pedro de Atacama
O dia amanheceu lindo
Sede do governo local
A praça central
Ruas ainda tranquilas
Visual tipico com muros de adobe

Universo paralelo
Muitos cachorros, como sempre
A pousada Camino del Inca, como já disse, é bem simples, porém ótima para quem está de moto, pois há um razoável pátio com cascalho, um arbusto no fundo deste, fornece a sombra necessária. Ao contrário da pousada Elim, que este ano estava cheia mesmo. Ali eles não tem serviço de café, porém há uma cozinha, com fogão, geladeira, talheres, pia e uma mesa.  Então é só comprar o que se deseja e fazer ali mesmo.  Por isto fomos ao mecardinho que está bem ao lado da pousada, que aliás está muito bem situada. A Calle Licancabur, é uma rota de passagem entre o lado da imigração e a ruta 23 que vai para o oeste. Os caminhões e veículos chilenos, não precisam passar por ali, pois há um anel asfaltado por fora da cidade. Mas para turistas e para quem está na cidade, ali é a saída para Calama.  Desta forma, esta rua é bem movimentada, porém tem tudo fácil, sendo que a pousada Camino del Inca, fica no quarteirão entre as calles Tocopilla e Calama. Lá no mercadinho, compramos pão, frios, suco de laranja, água, e se não me engano, ovos.

Fomos então fazer nosso desjejum, e encontramos a Beth lá na cozinha, muito simpática, nos contou que não ligava mais para a água, pois lhe oferecemos água mineral e ela disse que ia com a da torneira mesmo. Nos explicou que na África, mais de uma vez, ela tomou água com barro, pois era a única que havia, isto e muitas outras coisas que ela viu e passou, haviam revisado os seus conceitos pessoais.  Ela e o esposo Marcelo, haviam chegado na noite anterior, com uma BMW GS 1200, ambos estavam finalizando uma viagem de dois anos, pelos cinco continentes, daí as diversas experiências dela na África. 

Depois de algum tempo, Marcelo entrou na cozinha, nos cumprimentou, mas achei que devia estar cansado, pois não estava afim de papo, ao contrário dela, que parecia precisar conversar, e em português é sempre muito bom quando se está fora de casa.

Depois quando nos preparávamos para sair, conversamos um pouco com ele, que nos disse ter feito de Arica até ali no dia anterior em uma tocada só!  São 760 km cortando direto pela ruta 5, se for pelo litoral, dá 820 km, que foi o nosso caminho em 2010.

Lhe perguntei se haviam visto Humberstone, ele fez uma cara de interrogação, depois me disse que vieram direto pela ruta 5, só pararam em Pozo Almonte para abastecer. Lhe expliquei que Humberstone ficava bem ali, ele passou ao lado. Ele me disse que estava no fim da viagem, então não via a hora de chegar.  Para quem visitou a Europa, a África, o Oriente Médio, incluindo o Irã, de onde eles falaram muito bem, aquele trecho ali deveria ser só deslocamento...

Eu imaginei que ele já devesse mesmo estar de saco cheio, porém pensei, não lhe disse, que ele perdeu várias atrações neste percurso, o gigante do Atacama, Humberstone e a cratera de 250 m de diâmetro, criada com o impacto de um meteorito em Quilágua.  Uma pena, mas entendi o que ele sentia, vontade de chegar. Lhe perguntei como lidou com as rajadas de vento dentro da Quebrada de Chiza e, interessante, ele nos contou que este vento só ocorre a tarde, pela manhã não há vento algum. Lá em Arica, lhe disseram para sair cedo, assim evitaria este fenômeno.  Fiquei pensando e logo entendi o mecanismo. Com o aquecimento das areias do deserto o ar sobe, como a Quebrada de Chiza vai até o Pacífico, o ar frio do ocêano é então sugado para aquele corredor gigantesco, indo também se aquecer lá em cima subindo em grandes espirais.  Aqui cabe uma observação, pois estes ventos laterais são de fato perigosos nestas latitudes, quando em rajadas então!   Nós sentimos a força disto lá na Quebrada de Chiza, naquele 24/12/2010, onde a única saída é baixar muito a velocidade, me lembro que fomos entre 40 e 60 km/h.  Soube de muitos acidentes com motos grandes, que saíram da pista, inclusive vi fotos do resgate de um boliviano que se acidentou em 2011 na ruta 5 com uma GS 1200, coisa feia...

Voltando à GS 1200 do Marcelo, estava adesivada como se fosse um réptil, tinha dois grandes baús de alumínio, cada um com um grande adesivo ilustrando a expedição. Havia no protetor de carenagem um mascote fixado com cinta plástica, era um pequeno crocodilo. Imagino que para o Marcelo, que rodou o mundo, nós eramos um bando de zé ninguens com nossas DR velhas, claro que haviam a 660 R do Magá e a F-800 do Zeca, mas eu percebia que ele olhava as DRs com um certo ar de desprezo e para nós dois com um ar soberbo.

Saímos então, o André e eu rumo a Toconao, o Zeca e o Magá a aquela hora, já deviam estar tomando banho de água quente lá em El Taitio.
O Zeca e o Magá visitando o campo geotérmico El Taitio
E ai Magá, tá frio ?

Água fervendo
Mas a temperatura ambiente é de uns 5 graus C.
Zeca



Quem foi o "boludo" que deixou isto aqui?
Agora construiram um vestiário

Os europeus fazem a festa

Zeca by Magá
Maga by Zeca
Tá frio Zeca?  (foto Zeca)
Quando o sol sai o visual é lindo (foto Zeca)
Eu sei o motivo da foto, mostrar uma com frio e a outra sem (foto Zeca)
Não se animaram?   (foto Zeca)
Foto Zeca 
Fila do banheiro feminino em Machuca (foto Zeca)
Fila do churrasquinho em Machuca (foto Zeca)
Dizem que é de Lhama... (foto Zeca)
Tava bom ?  (foto Zeca)
Abastecemos as motos e depois pegamos a ruta 23 novamente.  Fomos na boa e a uns 20 km após San Pedro o André parou, pois achou que ali era um bom lugar para brincar nas areias do deserto. Não preciso dizer que ele fica doido quando vê uma areia destas. Eu fiquei na beira da ruta fotografando, ou melhor, tentando, pois ele tinha que acelerar forte sem parar, pois do contrário era chão. Como ele passava de um lado para outro rápido, eu tinha dificuldade com o foco da máquina. Teria sido melhor se eu só tivesse filmado. Uma pena, pois a areia ali é muito grossa e pesada, então não causa o efeito visual correspondente ao esforço dele e da moto.  Ele bem que tentou me convencer a entrar lá, mas o máximo que fiz, foi ir uns 50 m, bem devagar,  e voltar pousando para a foto, que ficou muito boa, pois houve tempo para foco e enquadramento.


O André não resistiu ver aquela imensidão toda!
Não é fácil andar ali, ao contrário do que parece
Vórtices de ar quente, fenômeno comum no oeste andino

Vai que vai, mas uma hora cai



Fazendo contra esterço Andrezito!
Eu só fui até ali!
Só para voltar e sair na foto assim
Então seguimos para Toconao, que já fica em um plano mais alto, mais não muito, a cidade é maior que Socaire, mas também não muito. Paramos no ponto mais alto da cidade e perguntamos para um senhor que passava na rua, ele nos disse que era só pegar uma rua ao lado e a quebrada era logo ali, bem perto. De fato, subindo a rua, saímos em um lugar alto e arenoso, fomos seguindo até encontrarmos a entrada do parque, cujo portal fica a uns 500 m da ruta 23. Paramos ali e fomos atendidos por um senhor, muito calmo e muito simples, havia um cachorrão meio preguiçoso em sua companhia. Ele nos disse que o parque estava em manutenção, que as coisas não estavam em ordem, mas que dava para visitar. Pagamos as entradas, cujo valor era irrisório, e fomos procurar o estacionamento que ele havia indicado, pois era o limite para os veículos.  De fato, havia na lateral de um barranco, duas coberturas de palha, onde cabiam alguns carros estacionados lado a lado. Muito bem, temos sombra para as motos, não havia ninguém por lá, além de nós.









Fomos então descendo a pé em direção ao vale, mas antes passamos por algumas bombas de água e umas mangueiras que vinham do meio das rochas escavadas. Naquela direção havia uma certa destruição da natureza rochosa, mas como disse para o André, onde verte água por aqui, ninguém quer nem saber, escavam mesmo. Bem, subindo as areias em direção ao leste, há uma cadeia de sete vulcões que dista apenas uns 20 km. Então há água infiltrada por baixo daquelas rochas.

Continuamos descendo a trilha rumo ao vale verde que contrasta violentamente com a aridez ao redor, é como se alguém tivesse pintado uma linha verde no meio das areias. Nas rochas mais abaixo, há umas escavações que formam abrigos dentro da montanha. Há várias outras do outro lado, pois ali é um parque arqueológico, e segundo li, teve habitantes desde 12.000 anos atrás. Mas quando chegamos à beira do vale, que decepção, pois era como se houvesse passado uma tormenta, que derrubou árvores e arrastou tudo o que havia pela frente. De fato foi o que aconteceu, pois se a ruta 23 estava toda fraturada, com vários desvios devido a destruição causada pelas águas que desceram dos Andes, ali que é um duto, não podia estar diferente.


Bem aqui, um dia existiu uma piscina (represada) com um deck de madeira
A definição do que é uma "Quebrada!, vida aqui e aridez lá
Vida dentro da Quebrada, mini-pêras

Tudo devastado, passou muita água por aqui
Que pena, sonhei com aquela piscina
Uma pena, mas este lugar era lindo, eu tinha visto fotos
Uma pena, pois a piscina de pedras com um deck de madeira, na qual eu julgava, iria tomar um belo banho, não existia mais.  No fundo, apenas um pequeno córrego de águas límpidas, corria timidamente, desviando de grandes troncos e pedras caídos. Mesmo assim, o lugar é bonito. Existem árvores frutíferas nas margens, do outro lado do córrego há algumas pequenas propriedades. Há placas pedindo para não colhermos as frutas, o que eu respeitei apesar da tentação. Então tiramos os tênis e fomos caminhando dentro d'água, acompanhando o curso, o sol estava muito forte. Foi aí que vi uma pequena pera, boiando na água, então a recolhi, vi que estava perfeita, só que era uma miniatura de pera. Claro que antes de comê-la, tirei uma foto, mas fiquei com vontade de comer mais, pois apesar de minúscula, estava deliciosa.

Andamos por dentro do curso d'água uns 300 m, o André encontrou uma jaqueta suja caída no chão, era de motociclista, então ele pendurou em um tronco, pois quem sabe o dono voltasse ali, pouco provável, mas...  Começamos a voltar com um sol muito quente na cabeça e uma água gelada nos pés.  Havia várias pequenas árvores aqui e ali, com umas frutas amarelas pequenas e redondas, diante de tantas resolvi colher uma e experimentar, porém não estava madura, conforme mordi o gosto não foi suave como o da pêra, na hora que engoli parou na garganta. Tive a impressão que grudou na minha garganta e comecei a ter dificuldade para respirar. Não disse para o André, mais fui devagar tentando engolir e respirar devagar, mas a 2600 m de altitude não é tão simples assim.  Acabei tomando toda a água que restava na garrafa que eu tinha na mochila, mas o negócio parecia que não saía mais de mim. Tossi bastante, e fiquei com a garganta ardendo um bom tempo.  Isto é que dá comer o que vê pela frente...  Mas eu me criei no mato, portanto isto era comum, porém em outro lugar né.

Bem que tentei me molhar naquelas águas, mas havia pouca água, e mesmo deitando no leito do córrego, não tive a sensação de um banho, foi frustrante, pois eu havia visto uma foto da antiga piscina com seu belo deck de madeira, porém não existem mais, foram levados pelos caprichos da natureza, que aliás, nos Andes é bem caprichosa, em todos os sentidos.

O contraste é absurdo
Eu tentei, mas nem me molhei
A sombra da velha árvore
Sentamos debaixo de um antiga árvore, já na subida, fora do leito do córrego, existem um bancos em volta de umas mesas à sombra desta árvore. Enquanto colocava as meias e o tênis, passaram por nós alguns brasileiros, era uma família, com filhos adolescentes. Pelo sotaque identifiquei que eram do sul, nos cumprimentaram meio desconfiados e foram descendo. Nós fomos então, devagar subindo em direção à cobertura de palha onde estavam as motos.  Bem ao lado delas estavam estacionadas duas Hilux pretas novinhas, as placas do RS confirmaram que eram gaúchos mesmo. Uma das pickups estava erguida, enquanto a outra se mantinha original, porém ambas super equipadas.  Eu e o André ficamos curiosos com a erguida e fomos expiar sob o chassis, daí descobrimos que havia vários coxins de borracha entre o chassis e cabine / caçamba. Bem, a modificação não deve ter ficado barata, mas pelo jeito, para eles dinheiro não era problema, pois viajar por ali, com dois carros daqueles e mais a família toda é privilégio de poucos.

Nós pegamos as motos, mas antes de sairmos, subimos para um mirante rochoso, pois não tivemos coragem de ir lá a pé, ainda acabamos subindo com as motos até o topo, mas havia uma indicação para deixar os veículos mais abaixo, nem vimos, quer dizer, fizemos de conta que não vimos, pois não havia ninguém nem nada por ali.  Tiramos as últimas fotos e saímos de lá calmamente, mas meio cansados e bastante decepcionados. Voltamos direto para San Pedro, pois o Zeca e o Magá voltariam na hora do almoço do passeio em El Taitio.  Nós iríamos na parte da tarde, todos juntos, para o passeio nas lagunas no meio do salar.

A Quebrada de Jerê em Toconao
fora da quebrada o deserto puro
um oásis longitudinal
Lá para trás do André, esta o Serro Toco e o projeto ALMA
Dá para ver o vale verde rasgando como uma linha o deserto

Olhando à direita do meu ombro na foto acima, vê-se isto!
Aqui a Quebrada descendo sentido Toconao e o Salar do Atacama
A Suzi e eu, ao fundo o infinito
Eu não me lembro se nós chegamos lá antes ou depois deles, mas me lembro que conversamos um pouco com a Beth, mas o esposo dela, deu uns dois cortes no papo. Ela queria conversar, mas ficou claro que isto o incomodava, bem éramos só nós a opção que ela tinha...

Fomos então almoçar, depois de novamente andarmos para lá e para cá, entramos em um restaurante muito estranho, estranho mesmo, a decoração era meio cavernosa, para não dizer infernal...
Uma mulher meio estranha nos entregou o cardápio, mas eu estava mais era intrigado com aquela decoração de mal gosto. No final, ninguém decidia o que comer, então eu propus irmos ao mesmo restaurante do dias anterior, pois eu queria muito experimentar aquele salmão.  Então saímos daquele buraco e fomos repetir a dose, que dizer a comida.  Porém para minha tristeza, descobrimos que aquele era um prato do dia, dia anterior claro. Eu tentei convencer a menina do restaurante a preparar um, mas ela depois de verificar, nos disse que não havia mais salmão!

Ok, então nem me lembro mais o que comi, deve ter sido, pra variar, frango com batatas...

Nosso passeio sairia somente às 15 h, então tivemos bastante tempo, voltamos à pousada que agora estava invadida por motos, no dia anterior, o nosso amigo da GS andava pelo pátio falando alto ao celular, então acabei ouvindo ele informar a alguém que estava naquela pousada e indicava como chegar lá.  Então chegaram uma Téneré 1200, duas G650 GS e uma F800. A pousada ficou cheia, havia moto para todo lado.
Fizemos um pouco de hora e voltamos para a Calle Caracoles, para investigarmos na agência de turismo se havia mudado algo em relação ao Paso Hito Cajones. Infelizmente, não, todos os passeios de 4x4 para a Bolívia estavam suspensos, então o nosso percurso por ali também.

Saímos da agência acompanhando o guia até o estacionamento de  ônibus e vans, que fica na entrada da cidade, pois se eles não podem ir até a Calle Caracolles, não justifica a entrada dos mesmos, além do que a maioria das ruas é bem estreita.

Entramos no micro ônibus e nós já ocupamos o fundão e as janelas dali. Só para lembrar o porque estávamos indo de excursão e não de moto, em San Pedro, nossa estratégia é ir de excursão para lugares onde não conhecemos, assim aprendemos o caminho e avaliamos se é viável ir de moto ou não. As excursões tem preços aceitáveis, então vale a pena o investimento.  O ônibus estava cheio, pegou a ruta 23 e logo entrou no contorno da cidade, sentido sudoeste, andou um pouco e saiu para uma via de terra paralela ao asfalto, eu guardei bem esta saída, pois é fácil não vê-la da estrada. Foi seguindo por uma sequência de terra e areia, observei que havia algumas placas no caminho.  Então descobrimos que não era longe e que era fácil ir de moto, depois que a gente sabe como é tudo é fácil, claro.

O guia chamado David, era um cara bem legal, informava as coisas com boa vontade e sem frescura. Nossa primeira parada foi na Laguna Cejar, que é pequena, a princípio não há nada de tão bonito ali, comparando-se às lindas Miscanti, Meniques e Tuyajto. O atrativo ali não é a beleza, mas o fato de podermos entrar na água!   A Cejar é formada por dois buracos no solo plano do deserto, tudo em volta é imenso. Nas bordas a água transparente nos permite ver as bordas de sal, depois há pontos onde a água é de um azul cobalto, onde não se pode imaginar o quão fundo é. Segundo o David, há ali um lençol de águas subterrâneas, este, oriundo das infiltrações das águas de degelo que descem da borda Andina, claro que ali tornam-se salobras. Estes buracos azuis, segundo ele, são a ligação direta com estas águas subterrâneas, então imaginem o quão fundo aquilo é, por isto fica com este azul profundo. Em alguns pontos estes buracos ficam bem próximos a borda da laguna. Mas não há perigo em cair ali, o perigo sim, é nos cortarmos nas bordas de sal, que são afiadas.

Laguna Cejar, em pleno Salar do Atacama
E aí Magá, vamos encarar?
Tudo sal petrificado, a parte clara tem 1m de profundidade, a parte azul ninguém sabe


Zeca e André
Eu vou lá!
Vamos?  (foto Zeca)
Porque não há perigo em cair na água bem nos buracos que se ligam às profundezas? Porque é impossível a gente afundar!   A densidade de sal na água é tão grande que, mesmo ficando em pé dentro da água, a gente não afunda!   É uma sensação incrível, ficar flutuando sobre um daqueles buracos, girar o corpo de forma a ficarmos em pé dentro d'água vendo nossos pés apontarem para o abismo subterrâneo e nossos ombros permanecerem na linha d'água. Outro perigo é o de abrirmos os olhos embaixo d'água, bem que o guia nos avisou, mas eu tonto me esqueci, resultado, olhos ardentes de um vermelho vivo.

Para ir flutuar nestas águas é necessário levar uma toalha e uma ou duas garrafas de água, pois além de querer beber sob aquele sol ardido, também a usamos para lavar o rosto, pois a quantidade de sal que gruda no corpo é absurda.  Ao sol, o sal seca e começa a estralar na pele, é uma sensação estranha, mas pior é colocar uma camiseta, pois parece que há pó de vidro grudado por dentro da roupa. A roupa de banho quando seca, fica engomada, dura, parecendo lona.

Bem, o guia nos deu 20 minutos para brincarmos na água, depois disto, deveríamos ficar ao sol e nos secarmos para podermos entrar no micro-ônibus, pois seguiríamos para a laguna Tebenquiche.


Beleza
É um pato, é um boto, que bicho é este?
O Zeca encarou!
Onde não se vê é fundo, as bordas de sal são cortantes (foto Zeca)
Mais uns minutos ao sol e fico um churrasco
Este passarinho estava rindo da minha cara!
A água é quente, o sol ardente, mas o vento!
No caminho desta porém, o micro-ônibus parou entre dois grandes buracos cheios de água verde. No maior deles o nível da água fica a uns 2 ou 3 metros abaixo do solo plano do Salar. O guia já foi logo avisando, aqui só pode entrar, quer dizer, pular, quem sabe nadar mesmo, pois a água ali é doce, então ao contrário da Cejar, ali se afunda, e é fundo, muito fundo!   Porque a água ali é doce?  Porque apesar de fundos, ambos os buracos, chamados Ojos del Salar (olhos do salar) não se conectam com lençol subterrâneo. São água acumuladas lentamente no período chuvoso.  Dito isto, eu não me atrevi a cair por ali, o que o André fez com prazer, para depois nos dizer que a água cheira a enxofre.  Mas mesmo assim ele saltou umas três vezes, saindo de lá escalando uma lateral do barranco.

Ah como eu queria saber nadar como o André sabe!  E também andar de moto como ele, mas...   Me conformo com as minhas restrições.

De volta ao micro-ônibus, seguimos uns poucos metros, na realidade naquela imensidão plana, não temos noção das distâncias, por isso pareceu perto, então chegamos a laguna Tebenquiche. Esta, o que menos tem é água, pois é um enorme plano de sal branquinho!   Existe uma certa umidade no sal, lá no fundo, bem longe há água. Mas o divertimento é andar pelo sal e observar o horizonte gigantesco à volta.


Ojos del Salar, aqui a água é doce
Preparando a entrada do André!


Lá foi o André, aqui só para quem sabe nadar de verdade
Ele ainda repetiu a dose!



Ficamos ali observando o sol descer rumo ao horizonte, e aproveitamos, o Zeca e eu, para continuarmos a conversa iniciada com o David lá nos ojos del salar. Ele nos disse que tem um Honda CRF-450, uma moto de respeito no mundo offroad!  Ele a trouxe de Santiago. Nos contou que o piloto chileno, cujo nome não me lembro, que corre o Dakar, treina ali em San Pedro, como são amigos, o David o acompanha em alguns treinos. Nos contou que era possível entrar na Bolívia desviando alguns quilômetros do posto de fronteira, também de alguns locais de controle e sair em Ollague também fugindo dos guardas fronteiriços, porém é só para quem conhece aqueles atalhos no deserto. O risco de alguém se perder é grande, caso não conheça. Então ele nos recomendou entramos por Ollague mesmo, pela fronteira normal, nosso plano B. Ele nos disse que por mais de uma vez, entrou e saiu da Bolívia pelos atalhos, mas...  Nós não queríamos ser motivo de um incidente diplomático entre Brasil e Bolívia, certo?

O que nós lamentamos foi o fato de entrando por Ollague, não podermos visitar as lagunas, Verde, Colorada, Honda e Hedionda, mas sabe o que ele nos disse?  Vocês conhecem as Lagunas Miscanti e Meniques certo?  Então só faltou a Tuyajto, que é a mais bonita de todas! Mas então nós lhe dissemos que sim, conhecíamos a Tuyajto, pois fizemos o passo de Sico. Ele disse, esta é a laguna mais linda dos Andes, portanto Colorada, Honda e Hedionda serão uma decepção para vocês, vocês não vão perder nada e ainda por cima, vão por Ollague, conhecer o lindo Salar de Ascotan.  Mas os Desertos de Siloli e Salvador Dalí vamos perder sim, eu pensei...    Quando contamos isto para o André ele não concordou, pois pensando corretamente, era como ele disse, uma interpretação pessoal do David.  Mas tanto o Zeca como eu, tentamos lhe convencer que o David era um cara inteligente e experiente, portanto uma opinião a ser respeitada. O André continuava inconformado por não podermos ir pelo Paso Hito Cajones.



Laguna Tebenquiche
Um mar de sal branquinho
Lá ao fundo, o vulcão Licancabur emoldura a foto do Zeca

Sal grosso
O Magá não aguentou de vontade!
Mas olha o resultado!
Vamos fazer uma foto divertida?
Ficou boa!
Eu tentei mas não deu certo
Esta ficou boa Zeca
A foto da foto acima!
Não entendi




Olhando para oleste, o fim da cadeia andina
Lá longe o rasgo da Quebrada de Jerê




Segundos antes, formava um perfeito disco voador!

Mas esta nuvem logo se desfez!

O sol já ia deitando no horizonte, quando olhando para o lado dos vulcões Purico e Lascar, havia uma nuvem em forma de disco voador, um disco cônico, muito louco, eu pedia para alguém fotografar, pois a bateria da minha máquina havia acabado! Uma pena, pois estas nuvens doidas se desfazem rápido, quando o Zeca e o Magá a fotografaram, já não tinha mais a forma perfeita de quando olhei para ela.  Calma, calma! Eu estava sóbrio, o Pisco só foi servido depois.  O motorista do micro-ônibus e o David, montaram uma mesa à sombra do ônibus, colocaram copos plásticos e depois abriram vários pacotes de salgadinhos e claro, várias garrafas de Pisco com limão.  Como eu não iria dirigir nem para sair dali, nem depois, decidi que podia ficar de fogo, então tomei todo o Pisco a que tive direito, fiquei bem alegre... 

Com o sol bem próximo do horizonte, o David pegou uma garrafa vazia de Pisco e nos reuniu em grupos, para fazermos umas fotos divertidas. Em uma plano branco de sal daquelas proporções, ocorre um efeito de ótica que é a perda da noção de profundidade, então quando se fotografa algo, as proporções ficam distorcidas.

Ele segurava a máquina fotográfica com uma mão e a garrafa com outra, nos pedia, para dois a dois, nos posicionarmos a certa distância. O resultado é bem legal.


A Tebenquiche é assim, uma grande borda de sal
E um distante e fino espelho d'água
O David montando o efeito
Este é o resultado!

O Magá dando as últimas gotas de Pisco Sour para o André
Ultimas luzes do dia
Lindo pôr de sol registrado pelo Magá
Olha que efeito!

Acabou!
O André, como eu, ainda meio tontos!
O Sol se pôs, na estrada formou-se um comboio de micro-ônibus, vans e carros, com os faróis acesos em meio à nuvem de poeira.  Nós agora já sabemos onde fica e como chegar ali, porém na planura do Salar, se você não souber por onde ir e o que há em certos lugares, nunca se consegue descobrir, pois as coisas se perdem naquela imensidão e planura toda, estas lagunas, que visitamos, não são visíveis à distância.

Eu cheguei na pousada meio zonzo ainda, mas afim de um banho, pois os cristais de sal estavam estalando nas minhas costas. Vale lembrar que estávamos em plena noite de Natal, porém eu não tenho certeza, mas acho que foi nesta noite que jantamos no frango assado ao lado da pousada, aquele boteco que faz frango assado com batatas em produção, um monte de gente fica ali esperando o seu. No fundo do boteco há umas mesas, e foi ali que jantamos. Um gatinho, filhotinho mesmo, muito esperto, estava em cima do muro, desceu pelo tronco de uma árvore e eu lhe dei uns pedaços de peito de frango. Ele era assustado, mas muito esperto, ele teve uma ceia de Natal, enquanto nós víamos pela televisão local, o vulcão Puyehue cobrir o sul do Chile e Argentina com uma nuvem de fumaça e poeira.   Depois eu fui dormir, apesar da conversa no pátio, pois a pousada estava cheia, de gente e motos.

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