terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Dia 25/12/2012 - Natal de 2012 (O dia do Sal).

Mais um belo dia de sol em San Pedro, nós fomos no mercadinho ao lado compramos as coisas para o nosso café. A cozinha da pousada estava concorrida, alguns dos motociclistas que haviam chegado nos cumprimentavam, outros mal respondiam. Fizemos a nossa bagunça, mas depois arrumamos tudo, lavamos a louça e os talheres, enfim, deixamos tudo como havíamos encontrado.

Mais uma bela manhã em San Pedro (Laguna Cejar)
Rolava muita conversa no pátio, por isto ficamos sabendo que uma das G 650 GS, estava com as pastilhas de freio traseiras travando, parece que é uma mania das G sob forte calor. O Zeca pegou as ferramentas e junto com outros do grupo foram fazer uma manutenção nesta moto, seu proprietário era um médico, como ele mesmo disse, não entendia nada de mecânica.

Enquanto isto eu conversava com o rapaz da F-800 preta, ele me disse que vindo de Iquique com a esposa, errou o caminho na ruta 5 e foi parar em Antofagasta,  um pequeno desvio de 200 km!  Só de ida!  Então eu lhe perguntei se haviam aproveitado a oportunidade para tirar a foto clássica ao lado da "mão do deserto", mas ele ficou me olhando pensativo, depois me disse, não sei o que é isto.  Eu lhe disse que eu nunca tinha ido até lá, pois nossa rota sempre foi dali de San Pedro para o norte, mas que, não desta vez novamente, em outra oportunidade eu iria até lá, pois é um marco, o símbolo para todos os viajantes de moto que visitaram o Atacama. Eu vou lá só para ter a minha foto na mão do deserto.  Eu pensei, ele esteve lá e nem sabia que isto existia... Com um pouco mais de conversa, entendi que o negócio dele era acelerar, por isto, como ele mesmo disse, errou o caminho.

Eu e o André já conversamos muito sobre isto, a opinião alheia sobre um lugar, uma viagem. Depende muito da interpretação pessoal, do momento de cada um, por isto algumas pessoas acham um lugar incrível, outras pessoas visitando o mesmo local não acham.  Nós viajamos para conhecer lugares, não só para rodar de moto, rodar é a consequência prazerosa de irmos conhecer algum lugar.

Aquele pessoal todo ali, não tinha informações sobre San Pedro, tanto que me lembro que o André lhes perguntou que passeios eles tinham programado, mas nenhum deles havia programado nada. Eu disse a minha frase de sempre, San Pedro é um imenso parque de diversões, basta escolher onde e como brincar.  Nós já havíamos decidido que, voltaríamos à Laguna Cejar, pois assim poderíamos ficar lá flutuando o quanto quiséssemos, claro que para ir lá, iríamos rodar naqueles estradões poeirentos. Viram só! um lugar, um motivo e o resultado prazeroso que é rodar de moto até lá. Como o David havia nos dito, o melhor horário era das 11 as 13:00 h, pois neste horário a água estaria bem quentinha e não haveria vento. Depois do almoço nós iríamos visitar os vales de morte e da lua, eu finalmente iria ter a minha foto com a Suzi, emoldurada pela Pucara de La Luna.  Quando fomos sair, me lembro que dissemos ao Marcelo que nossos passeios de hoje eram todos próximos, nada mais distante que 20 km, lhe demos as coordenadas de ambos.

Lá fomos nós, não foi difícil achar o caminho saindo do asfalto, fomos cortando os estradões arenosos e prestando atenção em umas placas que indicavam as lagunas. O André para variar, já ficou alucinado com as areias nas laterais da pista, doido para sair dos trilhos. Chegamos na portaria da Cejar, que é uma casinha de barro, pagamos as entradas, micharia, e paramos as motos no "estacionamento" (uma área marcada por pedras).  O Sol tava pegando!  

Observamos uma pickup vermelha, daquelas das mineradoras, com sua antena dobrada sobre a caçamba, atolada na lama salgada no lado noroeste da laguna. 

Eu queria era logo entrar na água, imaginem, para quem não sabe nadar direito, nem boiar, conseguir ficar até em pé dentro d'água é o máximo, parece coisa de criança, e é mesmo!  A diferença é que quando eu era garoto, fugia de bicicleta para ir nadar nas lagoas que existiam onde hoje é a pista do aeroporto de Guarulhos, naquele dia fugi de moto para nadar nas lagoas do Salar do Atacama...

Às margens do lado oeste da laguna há duas coberturas de palha, deixamos nossas coisas lá, protegidas do sol ardido, coloquei meu calção de banho e fui para a água.

Depois de bastante molhar a bunda naquela água, fui dar uma volta em torno da laguna, ou melhor afundar na lama de sal, que é um perigo, como escorrega aquilo, além do que é fácil perder o chinelo, pois parece sugado nos buracos onde afundamos.  Aliás, lembrando em afundar, apareceu um guincho para tirar aquela pickup lá de onde estava, claro que o motorista deixou o caminhão bem longe, no chão firme, e começou a puxá-la com um cabo. O que eu não entendi, foi que depois de tê-la tirado de lá, a levou sobre a plataforma. Talvez a mesma tivesse tido algum problema mecânico bem lá no meio do atoleiro, pois do contrário talvez tivesse saído sozinha de lá então, ou não.


Com sol, sem vento e sem turistas
Belo lugar para atolar uma pickup
O sal úmido é como argila
Quase ninguém além de nós
Claro que eu iria me molhar
Não sei quanto tempo ficamos lá, mas ficamos até enjoar, pois neste horário não há quase turistas, as excursões só vão para lá no meio da tarde.  A fome bateu, e eu estava me sentindo um filé salgado, e já meio assado pelo sol. Antes de virar um churrasco bem passado, resolvi ir embora, como eu havia esquecido de trazer água, que mancada, estava com a garganta ardendo.  Então avisei a eles que iria direto para a pousada, mas quando peguei na estrada logo eles estavam vindo atrás, então mais a frente os esperei. O André saiu pela lateral direita da estrada e acelerou sem dó, a moto saltava os pequenos montes de areia, até que à frente havia uma enorme valeta. Ele viu e apontou para a esquerda no sentido da estrada, passou não sei como por ali, desviando da valeta.  Eu que ia ao lado, vi a viola em cacos, mas o André pilota muito e saiu da situação sem cair. Como estava tudo bem, então eu dei tchau para eles e acelerei, pois minha camiseta parecia que tinha cavacos de metal por dentro, arranhando minhas costas. Aí vai um aviso, lá na portaria (aquela casinha de barro) tem ao lado um local com água doce, para quem quiser se banhar, mas nós não temos paciência para estes cuidados sabe...

Ah! antes que eu me esqueça, lá no meio daquela planura seca, sem vegetação, há uma única árvore, um Algaborro, ela fica bem na lateral da estrada, uma pena, mas neste dia eu não tinha levado a máquina fotográfica. Me lembrou da Acácia no meio do deserto do Téneré, da qual eu vi uma foto em uma revista na década de 80.

Eu ia acelerando na poeira, quando vejo várias motos vindo em sentido oposto, eram os nossos companheiros que estavam lá na pousada, na frente vinha a BMW GS do Marcelo e atrás a Téneré 1200, ambas puxando a fila das demais.  

Eles resolveram então sair um pouco, inclusive levando as esposas, legal.  Nós, por nossa vez, estávamos voltando para o almoço, eu cheguei na pousada e saltei da moto direto para o banho. É engraçado, era dia de Natal, mas hoje eu não me lembro onde almoçamos ou jantamos. Não foi nada especial, se fosse eu lembraria. Me lembro sim que ficamos na pousada muito tempo, pois o combinado era irmos visitar os Valles de la Muerte (distante 10 km da pousada) e de La Luna (a portaria distante 7.5 km da pousada).  Foi um errosco a saída, por isto acabamos saindo quase as 16 h. 

Eu tonto, fui só de camiseta e calça leve, pois estava pronto desde a hora em que o sol ainda ardia forte, então saindo da pousada e descendo a Calle Licancabur por apenas 200 metros, há uma curva à direita e depois uma à esquerda que passa sobre a ponte do Rio San Pedro. Passando a ponte já se saiu da cidade e se esta na ruta 23, sentido oeste. A penas 1 km da saída da cidade, está o entrocamento com o anel circular que permite aos caminhões vindos de Toconao, contornarem a cidade por fora e sairem do outro lado sentido Calama. Mais 1 km em frente e já se entra na subida do que passa entre os Vales da Lua à esquerda e La Muerte à direita.  Esta subida que começa a 2450 m de altitude na saída de San Pedro, passa por 2600 m de altitude antes da primeira descida sentido oeste.  O mirante superior do vale de La Luna fica à esquerda, mas deixamos para a volta. Seguindo em frente em busca da saída à direita para o mirante superior do valle da Muerte. O problema é que a saída para o mirante de La Muerte, não tem sinalização, eu me lembrava bem disto, da excursão de 2010, mas também lembrava que ficava logo no início da descida após o ponto mais alto. 

Nós passamos por uma saída, mas eu olhei e não ví a estrada como eu lembrava, parei para olhar, mas disse para o pessoal que não era ali, desci mais um pouco, mas pelo intercomunicador me avisaram para voltar. Eu estava também em dúvida, então voltei e entramos por ali, mas o caminho não me era familiar, fomos cortando areia e pedras até chegarmos a um ponto onde a estrada acabou. De lá via-se o vulcão Licancabur, mas nada das paredes de pedra do mirante, então fomos descendo em meio às pedras até que vimos uma trilha que ia até uma parede. Lá estava a estrada do mirante, porém nós estávamos na parte de cima das paredes de rochas!  Então voltamos tudo e continuamos na ruta 23 mais um pouco, aí sim, a apenas 1 km mais adiante estava a verdadeira saída. Mas foi legal a "perdida" que demos, pois sem bagagem alguma eu estava me divertindo naquele offroad. 
O Valle de la Muerte

Esta estrada que sai da ruta 23 é curta, tem apenas 1 km de comprimento e já se chega no ponto onde os veículos tem que parar, dali em diante tem que ser a pé. Tem que ser mesmo, pois a estrada passa entre as paredes de rochas com uns 10 m de altura e faz uma curva para a esquerda, bem nesta curva, se deslumbra todo o vale e há uma queda na margem direita do caminho de uns 100 m de altura. A estrada desce beirando a parede de rochas à esquerda, com este precipício à direita.

O vento vai me levar
Eu estou de "armadura", não me leva não!
Mas estava forte sim, vejam o rosto do André
Dava rajadas né Magá?
O Zeca e a descida à esquerda, nunca vi ninguém descer por ali
Adeus Valle de la Muerte!
Dali pode se ver todo o vale, lá em baixo há enormes dunas onde o pessoal pratica sandboard, mas entram lá pela parte de baixo, logo no pé da subida da ruta 23.  Como já era fim de tarde, havia sombra lá no mirante e um vento fortíssimo!  Além de frio, este vento podia facilmente levar qualquer coisa de nossas mãos e jogá-las lá no vale abaixo. Eu brinco que, se alguém cair ali, ninguém vai lá embaixo buscar.  Infelizmente não aguentamos ficar ali muito tempo, apenas o suficiente para tirarmos fotos contra o vento.  Então voltamos para as motos e saímos de volta para a ruta 23 para descermos novamente em direção à San Pedro, para irmos para o Valle de La Luna, por baixo.  Agora sim, na volta paramos no mirante da ruta, de onde se vê o Valle de La Luna por cima, em 2010 nós paramos ali por volta das 14 h, mas neste ano o sol já começava a se alinhar ao horizonte. O vento gelado lá no alto incomodava um pouco, mas a vista é linda. 


A parada no mirante da ruta 23 para o Valle de la Luna
Atrás da Suzi o Valle, lá ao fundo o Salar do Atacama
O Valle visto de cima


A ruta 23 subindo sentido oste indo para Calama
Olhando para o lado oposto, sentido leste, lá embaixo San Pedro



Descemos até o entroncamento do contorno da cidade, uns 5 km já se tem a saída para a portaria do vale. Rapidinho pagamos as entradas e já fomos acelerando para dentro do vale. No lado direito, sentido oeste, há duas entradas por onde os micro-ônibus vão, porém bem mais cedo, estes caminhos vão até o pé da serra de sal, por onde passa lá em cima a ruta 23. Eles param em um ponto e dali começa um passeio à pé por uma passagem estreita em meio às paredes de sal. É lindo este passeio, onde gastamos uma hora à pé para ir até o fim da trilha, e uns 45 minutos para voltarmos. Porém este passeio tem que começar, por volta das 15:00 h, para depois finalizar o passeio no Valle com o pôr do sol.  Infelizmente, devido ao nosso horário de saída da pousada, tivemos que abortar este passeio, portanto o Magá e o Zeca, não conheceram este lado do Valle. O André e eu havíamos rido muito em 2010, quando fizemos este passeio.  Então o objetivo agora era irmos pela estrada até a Pucara do vale, para termos as fotos de lá com as motos.  A estrada dentro do vale, é um sal raspado e compacto, é quase um asfalto áspero, porém tem que se ficar atento, pois em alguns pontos a areia das dunas adjacentes, invade a pista e é fácil escorregar ali, mas com atenção, não há perigo algum.

A luz com o sol inclinado estava linda, a lua, por sua vez estava no lado leste, pequena, tímida, mas presente no seu vale.  Nós combinamos que alguém ficaria fotografando os demais voltarem na estrada tendo a Pucara ao fundo, mas foram muitas rateadas, até conseguirmos fazer as fotos que queríamos. Eu claro, estou satisfeito, tenho minha foto com a Suzi ao lado da Pucara do Valle de la Luna. Nós ficamos perto da subida para a Duna Maior, onde todo mundo sobe para ver o pôr do sol, mas é uma subida à pé de tirar o fôlego, pois é uma areia grossa, onde os pés afundam e a cada dois passos, volta-se um para trás. Nós também não subimos lá este ano. O frio já começava a incomodar, pois mesmo sendo verão, é deserto, onde à noite sempre é frio.


O Magá, agora "dentro" do vale
Eu indo rumo a Pucara de La Luna
Era esta foto que eu queria!
O Magá e la Luna
Ela está presente no seu vale




O André
Olha a composição que o Magá fez!


O Zeca no cenário de sal


O Zeca e la Luna

Deu trabalho para conseguirmos estas fotos!


Estou procurando algo
O Zeca e a Pucara

Espelho, espelho meu, existe piloto de BMW mas bonito do que eu?
O Magá e a Pucara
Lá vai o Zeca!


Fizemos mais umas fotos no lado sudeste, tendo o vulcão Licancabur ao fundo, depois deixamos o Valle, já sem sol, apenas com a última luminosidade do dia. Eu passei um frio danado voltando os poucos quilômetros na ruta até San Pedro.

Foi uma visita muito rápida a um lugar que tem alguns segredos a serem desvendados, uma pena.

Era proibido andar aí, mas...

O André e o Licancabur



Como eu havia dito, nem me lembro se fui jantar ou não, se comemos o mesmo frango com batatas, aliás, me lembro sim que o Magá disse, não sei quando, que não aguentava mais ver aquele frango. No fim do dia 25, o que de fato me lembro é que, eu tinha que arrumar toda a minha bagagem, que estava espalhada pelo quarto, pois no dia seguinte iríamos para a Bolívia, via Ollague, um caminho desconhecido. 

Este foi também um Natal diferente, não como o de 2010 à beira do Pacífico, na companhia de leões marinhos e pelicanos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário