terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Dia 18/12/2012 - Fomos notícia em Quitilipi (Um Juramento salvou o nosso dia!)

Já não me lembro se acordei sozinho ou o despertador do celular tocou, mas às 7 h eu estava acordado, porém todos dormiam, eu fiquei um tempo acordado e aí me levantei tentando driblar as coisas espalhadas pelo chão, acho que esbarrei em algo e aí o André falou comigo, na sequência foram todos falando e quando vi tinha acordado todo mundo, ou todo mundo já estava acordado. Meu objetivo era ir ao banheiro, mas no escuro do quarto não havia como não pisar em algo ou alguém...

Por volta das 7:30h o Adrian apareceu no quarto e nos avisou que o café estaria pronto logo, mais esta gentileza!

Eu peguei a minha roupa lá no varal e comecei a guardar as coisas, difícil com aquele espaço tomado de tanta tranqueira, mas com calma consegui, inclusive guardar os "comprimidos azuis" que o Adrian nos deu de presente na noite anterior, quando voltou da sua farmácia.  Como eu havia dito "Bah guri nunca precisei de um destes!", mais por via das dúvidas guardei os meus...

Levamos as coisas lá para a frente e amarramos nas motos, enquanto do outro lado da rua em uma praça, cigarras nas árvores, faziam um barulho forte, é um som cuja frequência é irritante, mas do qual eu aprendi a gostar, pelo que significa.

Neste interim recebi duas ligações de trabalho, uma de um colega que trabalha comigo e outra de um cliente, não havia como não atender, mas foram rápidas, ajudei como pude.

Pena que eu me esqueci dos nomes dos dois cachorrinhos, mas são tudo de bom, muito obedientes e tranquilos, gostaria de ter tido mais tempo para poder brincar com eles.   Para as cigarras estarem cantando era porque o dia estava lindo, e quente!  O Adrian e sua esposa não mediram esforços para nos agradar, o café estava bom demais, tanto que ficamos por um bom tempo conversando à mesa, até que a esposa do Adrian o lembrou que precisava ir abrir a farmácia.

O Adrian a levou enquanto nós terminamos de nos preparar, quando ele voltou, tirou da garagem a sua Transalp dourada novinha, o Zeca tentou convencê-lo a nos acompanhar por um trecho, o que seguramente ele estava doido por fazer, mas como nos disse, tinha de cuidar da loja.  Algumas pessoas que passavam pela frente da casa do Adrian, paravam, conversavam um pouco, é outro clima, sem a nossa tradicional correria do dia a dia.

Saímos com as motos e as estacionamos lado a lado na praça em frente a casa do Adrian, claro que tínhamos que fotografar este momento, a partir dali tendo a Adrian à nossa frente com a sua Transalp, fizemos um pequeno "tour" pelas ruas da cidade, de fato nós estávamos desfilando para a cidade que já começava a ficar ativa, paramos em frente a farmácia, nos despedimos da sua esposa,  e seguimos mais adiante quando paramos em frente a outra praça,  quando surgiram dois senhores que nos cumprimentaram e conversaram conosco sobre a viagem, depois posamos para uma "foto oficial", pois um deles era repórter do jornal da cidade!   Infelizmente não pudemos ver o "periódico", mas acho que viramos "notícia" no jornal de Quitilipi...


As motos na praça central de Quitilipi (foto Zeca)

Agora sim, da esq. para dir. Adrian, Zeca, André, Magá e eu (foto Zeca)
O Adrian nos acompanhou até o posto de gasolina na entrada da cidade, o mesmo onde nos encontrou na noite anterior, nos desejamos mutuamente sorte e um bom ano de 2013, que já se aproximava. Compramos água e mais um senhor começou a conversar conosco, de fato este tipo de viagem em motos chama a atenção e desperta muita curiosidade por parte de muitas pessoas, nesta parece que a coisa "exponenciou", pois fomos muito mais abordados do que na anterior, acho que foi pelo "Naipe" do Zeca e do Magá, sempre muito bem "paramentados", enquanto eu e o André sempre "relaxados" (no sentido de esculhambados mesmo!).


Já o Magá, sempre bem arrumadinho!
Começamos a rodar por volta das dez e meia da manhã, horário Argentino, o calor no chaco é algo que só estando lá para saber como é, havíamos planejado sair às 5 da manhã para rodarmos umas duas horas pelo menos em uma temperatura mais amena, mas agora o jeito é enfrentar o chaco e o Pampa del Infierno bem ao meio dia.  O trecho logo após Quitilipi, tinha bastante trânsito na estrada, passamos por vários caminhões e alguns carros, mas também alguns carros nos passaram, incluindo um Astra prata que, depois de me ultrapassar, voltou meia pista e passou pelo Zeca, que estava à frente, dividindo a pista com ele. O Zeca ficou puto e começou a acelerar, ficando do lado deste, não me lembro como, mais pelo lado direito, assim me lembro de o Astra estar na esquerda tendo o Zeca à direita e os dois acelerando, o Zeca pelo intercomunicador dizia, não vai passar, não vai passar. Alguém perguntou, a quanto eles estavam e o Zeca, contanto 150, 160, 170, 180 km/h, não vai passar! Aí o cara do Astra tirou o pé, voltou para a pista da direita e ficou longe do Zeca.  Bem, aí o Zeca diminuiu e deixou ele passar, só que desta vez ele passou bem lá pela esquerda, quase colocando a roda esquerda no acostamento do lado aposto da estrada... Foi hilário, mas também, perigoso!

Na ruta 16 apenas a 20 km após Quitilipi, está Presidência Roque Saenz Penã, pois bem, não é mesmo que eles construiram as tais "colectoras" (vias secundárias paralelas à rodovia), isto não existia em 2010, então não tem jeito, na rotatória da entrada da cidade já tivemos que cair para a direita e irmos por ali, pois outra multa (quer dizer, extorsão) não!   Por sorte não havia muito trânsito na colectora, na realidade, quase nenhum, então passamos relativamente fácil por ali, pelo menos ali, quando termina a colectora a pista te devolve à rodovia.

Trinta quilômetros à frente de Saenz Penã e cinquenta de Quitilipi, a ruta 16 se encontra com a 94 que vem de Santiago del Estero via Campo Largo, para seguir para Salta temos que virar à direita, e a uns 50 m antes desta saída há um posto de gasolina grande, não me lembro quem entrou no posto e porquê, provavelmente para comprar água. Neste posto tem uma lanchonete com ar-condicionado, o choque térmico é grande quando você entra, havia bastante gente lá dentro, inclusive havia uma casal de brasileiros viajando com uma BMW G1200 GS, quando entrei os cumprimentei. 

Não abastecemos, pois havíamos rodado apenas 50 km, mas o André verificou o óleo, neste interim encostou uma Ford Transit com placa do Brasil e desceu uma turma, é um rapaz do Mato Grosso viajando com a família, inclusive com uma criança pequena de colo.  Ele, muito gente fina, conversou bastante com a gente, nos mostrou o que ele fez na Transit, é a versão alongada e ele colocou bancos de couros super confortáveis para sete pessoas apenas atrás, geladeira, um baita ar-condicionado, de fato a família dele vai bem confortável ali.
Segundo ele, estavam a caminho do Peru, Machu Pichu, eu lhe perguntei porque ele não entrou pela Bolivia, já encostada no Mato Grosso do Sul, ele disse que não foi por lá por dois motivos, um segurança, dois ele queria conhecer estes lados da Argentina. Concordamos com ele, pois aquele trecho de 700 km entre Corumbá e Santa Cruz de Sierra é mesmo bem deserto, em 2011 eu e o André rodávamos por horas lá, sem cruzar com ninguém, ele com a família e com um carro daqueles...  hum melhor evitar. 
Voltamos para a lanchonete, o André conversou com o casal da BMW que logo partiu, iam para Salta, como nós.  Ok, tomamos refrigerantes, comemos algo e vamos para a estrada, mas não sem antes posarmos para fotos ao lado das motos com o filho do nosso colega da Transit!

O asfalto estava derretendo na ruta 16, logo que fizemos a saída à direita no entroncamento com a 94, cruzamos com um outro casal em uma G1200 GS preta, nos cumprimentamos de passagem, este ponto fica ao lado da cidade de Avia Terai, que não se vê da estrada.

Rodamos apenas mais uns 50 km, passando por Concepción del Bermejo e paramos novamente, desta vez no posto de gasolina de Pampa del Infierno, também no lado esquerdo da via, mas agora porque tínhamos pela frente o grande trecho de 185 km onde somente haveria gasolina em Monte Quemado e, se não houvesse aí, somente a 320 km em El Galpón (onde há um sapo usando os óculos de sol do André).  Tudo bem que tínhamos a gasolina reserva em garrafas PET que abastecemos em Quitilipi, mas por aqui não é bom dar bobeira com combustível.

De qualquer forma, havendo ou não combustível, a viagem não rendia devido ao calor extremo, o que nos faz parar a cada 50 km. Bem, agora abastecemos, mais uma vez ficamos bastante tempo no posto. Eu lembrei a todos que saindo do posto uns 200 m à direita está a placa da cidade, onde tiramos uma foto em 2010, ninguém se animou com ideia de parar ao sol ao lado de uma placa onde fazia uns 43°C!

Eu me lembrava dos guardas que nos pararam no meio da pista em 2010, para descolarem um "propina", pois bem, passamos por Los Frentones após Pampa del Infierno e a guarita estava vazia, pensei, na próxima, onde nos pararam antes, não vamos escapar. Na próxima guarita, que fica lá por Rio Muerto, estavam os dois guardas de uniforme azul marinho, talvez os mesmos de 2010, porém desta vez estavam sentados à sombra na porta da guarita, nos viram mais nem fizeram menção de nos parar, então levantei a mão e os cumprimentei de passagem, o que eles responderam sem muito ânimo, melhor assim.

A ruta 16 em muitos trechos por ali, tem em ambos os lados uma vegetação mais alta, formada basicamente por quebrachos e capins altos, isto forma uma barreira à visão do que há nas laterais, mais ainda um bloqueio de qualquer mínima corrente de ar, resultado, o asfalto ferve e o ar quente que sobe do chão fica por ali, nestes trechos a sensação térmica é de uns 50°C, na moto andando a 100 km/h ou mais, respira-se um ar quente que machuca as narinas e queima o rosto.


Olhem isto, a 120 km/h o termômetro do painel marca 39°C (foto Zeca)
Um lindo e quente dia na ruta 16 (foto Zeca)
O Mága só acompanhando (foto Zeca)
Deixou a velocidade cair para 100 km/h a temperatura foi para 41°C! (foto Zeca)

Neste dia, por sorte, havia uma brisa soprando perpendicular à estrada, mas nós só nos beneficiávamos dela quando saíamos dos "túneis" de vegetação lateral, aí era sensível que a temperatura, apesar de ainda muito alta, caia um pouco e o ar que respirávamos era menos agressivo. Contudo passamos por muitos e longos trechos onde a vegetação bloqueava a brisa.

Fomos assim, passando por Los Frentones, Rio Muerto, Pampa de los Ganacos,  Los Pilpintos, El Cabure, Los Tigres até chegarmos a Monte Quemado, 185 km após o último abastecimento.
Neste trecho, houve também a "chuva" de borboletas brancas que, aos milhares cruzavam a estrada e invariavelmente eram mortas pelos veículos, incluindo infelizmente, nossas motos. Este é um fenômeno que, ao que parece acontece com frequência nesta época do ano no chaco, pois em 2010 / 2011, passamos por isto no Chaco Boreal na Bolívia.  É uma espécie de borboleta pequena, totalmente branca, voam baixo e devagar, muitas aos pares, o que me faz entender que deve ser época de acasalamento, elas devem se espalhar aos milhões pelos campos, porém tem-se a impressão que todas vão para a rodovia!   Para se ter uma ideia da chuva de borboletas que é, depois que a viagem terminou, e após muita chuva que pegamos na volta, mesmo assim mais de um mês depois, havia ainda muitas asas de borboletas espalhadas pelas reentrâncias da minha moto!

Em Monte Quemado há dois postos de gasolina na ruta, um no sentido Oeste e o outro no sentido oposto, ficam distantes entre si aproximadamente 1 km, porém devido à planeza e a falta de obstáculos à visão, é possível ver o outro posto, estando em frente a um dos dois. Desta vez a história foi diferente, pois em 2010 havia gasolina no posto sentido oeste e não no do sentido leste, agora foi o inverso, por isto paramos no primeiro posto só para saber que não havia gasolina ali, só no próximo. Estranha sensação, pois me lembrei claramente daquela enorme fila de ciclomotores pilotados por todo tipo de gente, de crianças a senhores de idade, todos com algum galãozinho nas mãos montados em suas pequenas motinhas. Agora aquele posto ali era um lugar deserto!   No outro posto, além de gasolina, havia uma infra-estrutura melhor.

Bem, se até aqui não precisamos do combustível reserva, não deverá ser a partir daqui que teremos problemas, pensei.  Mas uma coisa não mudou, o calor, que está acabando conosco, tanto que, acho que foi neste posto que, ao encontramos uma mangueira na lateral do posto, jogamos água por cima das nossa roupas! Que alívio ao voltarmos a estrada, pois aí sim, o vento relativo, formado pela velocidade da moto, refrescou bastante, porém infelizmente, não por muito tempo, pois a roupa logo secou...

Depois do abastecimento em Monte Quemado, seguimos por mais 130 km até El Quebrachal, passando por Urutau, Taco Pozo, Tolloche, Nossa Senhora de Talavera e Macapillo.  O Posto de gasolina de El Quebrachal é histórico para mim e para o André, pois foi ali que paramos já à noite em 2010, destruídos pelo calor e pelo longo trecho, pois havíamos partido de Posadas  a 900 km de distância dali!
Desta vez, partindo de Quitilipi, apenas 420 km, por isto ainda é meio da tarde.  Foi neste posto que em 2010 um sapo bem grande, deu umas lambidas na perna do André que estava sentado no chão em estado lastimável, era noite naquele dia de 2010. Agora ao contrário, ainda é dia, estávamos lá pelo meio da tarde.

Paramos as motos ao lado das bombas de gasolina, mas nenhum dos dois funcionários do posto veio nos atender, estavam no escritório, um deles sentado à frente do computador e o outro em pé ao seu lado, ao que parecia lidavam com uma nota fiscal de qualquer coisa. Outros homens entraram no escritório, talvez algum dono da nota.  Devido a isto, demoraram para nos atender, enquanto isto fomos bebendo e jogando no rosto a água que tínhamos, neste interim entra no posto uma pick-up da polícia argentina, com dois policiais que, sem descer da viatura, pararam ao lado de uma bomba e ficaram nos olhando e conversando entre si, aí eu pensei, acho que eles vão nos multar por estarmos estacionados ao lado das bombas de gasolina, vão dizer que "motos internacionales non puedem"!

Depois daquela da ponte em Corrientes, posso imaginar tudo...  Mas felizmente um deles desceu da viatura entrou no escritório do posto e logo voltou, a seguir partiram sem nos dizer nada.  Logo depois, entrou no posto uma menina com uma moto pequena, ela de óculos escuros, sem capacete, deveria ter entre 15 a 16 anos, ficou nos olhando desconfiada. Eu pensei, ah!  ela está pilotando uma moto argentina, com estas tudo se pode, já se fosse uma moto internacional...

O frentista não tava muito animado em nos atender, fez minimamente o seu trabalho sem nada dizer.   Eu brinquei com o André, pois foi ali que ele deixou sobre o baú da moto em 2010, os óculos de grau e os de sol, esqueceu que eles estavam ali quando saímos.
Outra coisa da qual me lembrei, engraçado como este simples posto me traz lembranças, talvez pela situação em que nos encontrávamos em 2010 quando ali chegamos à noite, lembrei do trecho de estrada esburacado, uns 20 km e que foi torturante.

Voltamos à ruta, ali em Quebrachal, a ruta 16 faz um desvio para o norte, contorna por cima passando por Gaona, Joaquín Víctor González, Chañar Muyo e volta a descer para o sul em Ceibalito, passando por Chorroarín, voltando a seguir para o oeste depois de El tunal, este percurso tem uns 95 km, sendo que se a ruta continuasse de El Quebrachal direto para El Galpón, o percurso seria de menos de 60 km. Ao que parece, olhando no mapa, a rodovia contorna a ponta norte da província de Santiago del Estero, pois a rodovia neste desvio, não sai da província de Salta.

Nós tínhamos então um percusro de 250 km até a cidade de Salta, sendo que destes eram mais 130 km na ruta 16 que, no seu final encontra-se com a "super" ruta 9 que, vindo desde Buenos Aires passa pela cidade de Salta e vai até o fim da Argentina na divisa com a Bolivia.
Para mim, apesar do calor, era um deleite, pois em 2010 fizemos este trecho à noite, por isto eu não fazia uma ideia clara da geografia local, lembrava-me apenas dos morros no fim da ruta 16, que pensávamos fossem os pré-Andes. Este é mais um dos motivos por que eu não gosto de viajar à noite, a gente passa pelos lugares, sem os conhecer de fato. Tanto que desta vez, por ser de dia, tivemos uma grata surpresa, pois em 2010 passamos batido sem ver o que havia um presente dos deuses por ali!

Pela quantidade de cidades que citei acima, entre Quebrachal e El Galpón, dá para imaginar que a viagem não rende, pois é de bom senso, quando não obrigatório, reduzirmos a velocidade ao passarmos por elas. Logo depois de Chorroarín a ruta passa por sobre uma grande ponte, com uns 200 m de extensão. Foi ali que vimos um grande rio passando por baixo, eu que estava na frente e já havia cruzado a ponte, vi os demais pararem sobre a ponte, eu saí da estrada e fui com a moto para baixo de uma árvore, ali não dá para parar ao sol! 

Vi que havia um sítio, e que várias pessoas desciam por dentro da propriedade em direção ao rio, eu fiquei estudando uma possibilidade por fora. Decidi então voltar para falar com eles, aí descobri porque estavam parados sobre a ponte, é que havia a sombra de uma grande árvore que, naquele momento fazia uma sombra de uns 10 m sobre a ponte, parei por ali também. O André viu que havia uma estradinha passando paralela a ruta e indo para baixo da ponte, ele pediu que ficássemos ali que ele ia descobrir onde era o acesso.  Não distava mais que uns 300 m, então o André nos avisou e fomos todos lá, como o acesso é para quem vem do leste, nós voltando, tínhamos que manobrar as motos para fazer a curva que para nós era de 180 graus em descida e com cascalho.  Rapidinho chegamos a parte baixa onde havia uma enorme área descampada à beira do rio, por sorte a ponte fazia uma grande sombra. 



Parados sobre a ponte à sombra de uma árvore (foto Zeca)

Olha lá embaixo o motivo da parada! (foto Zeca)
Rapidamente parei a moto, pulei dela e tirei as botas e o telefone do bolso!  Que delícia andar descalço na terra fresca pela sombra.  Fomos na barranca do rio estudar o local, águas límpidas, porém o rio além de largo é correntoso, por isso tivemos que estudar bem por onde entrar, o André que é exímio nadador entrou primeiro e já identificou a força da correnteza, porém por uns cinco metros da margem era seguro ficar, apesar de mesmo assim lutarmos com a correnteza. Claro que nós entramos de roupa e tudo! 

Pois então, quando passamos em 2010 à noite, vimos a ponte, mas nem tivemos ideia do presente que havia embaixo.

Havia crianças e adolescentes brincado na margem oposta, bem debaixo da ponte, onde pelo visto formava-se um remanso, nós do lado de cá, estávamos na parte brava, porém não importava, estava uma delícia!   Deixávamos a correnteza nos levar alguns metros, e depois voltávamos para a mesma posição fazendo força contra o fluxo de água.  O Magá foi o único que não entrou na água, nós três, eu o André e o Zeca, estávamos nos divertindo, mas principalmente nos refrescando!  De tanto chamarmos, o Magá resolveu entrar, mas só um pouquinho e depois de ter tirado a roupa. Nós não tiramos, pois o objetivo era de ao voltarmos para a estrada, estarmos com as roupas o mais molhado possível!



Uau! a correnteza é forte!

Eu, precisa dizer alguma coisa!

O Zeca e eu

A ponte vista debaixo
André
O Magá não quer se molhar...

Do outro lado do rio um rapaz nadando, até o cachorro tava dentro da água!

O Zeca

As motos à sombra, observem a ponte calçada com dormentes! 


Tá bom demais sô!

Crianças brincando do outro lado, desceram pelo acesso dentro do sítio

Enfim o Magá se molhou, mas só um pouquinho

As meninas descansam à sombra

Não sei por quanto tempo ficamos ali, mas foi bastante, não dava vontade de ir embora, pois tomar banho de rio sob um sol de mais de 40°C não tem preço.  Com o moral elevado e rindo muito, finalmente saímos do rio e fomos colocar as botas, claro que tivemos que esperar o Magá se vestir novamente, porém estávamos a sombra e dava para ver que a ponte, apesar de ser de concreto, estava toda escorada por enormes dormentes de madeira debaixo da cabeceira leste.


A festa acabou!
Bem, voltamos à estrada apenas para cruzarmos a ponte, pois a direita havia um lugar que parecia um mercadinho, paramos à sombra, lá dentro não tinha quase nada, ou melhor tinha, uma única garrafa de cerveja em temperatura ambiente! Eu fiquei tomando água da minha garrafa, mas o Magá se aproximou e insistiu para eu tomar um gole da cerveja, no gargalo mesmo, pois não havia copos. Fomos tomando no gargalo, cada um de nós um pouco, eu estava era mais preocupado em tirar uma foto do enorme e lindo Quebracho Branco que havia ali, porém também já me preocupava o tempo, pois já estávamos na província de Salta, mas longe ainda da cidade homônima e capital da província, nossa parada por ali se estendia, dá uma preguiça enorme este calor, mas temos chão ainda pela frente...
Voltamos à estrada, porém mesmo na sombra as roupas já haviam secado bastante, mas mesmo assim nos sentíamos muito melhor.


O lindo Quebracho Branco em frente à vendinha

Agora com a Suzi
Não havia placa que informasse o nome daquele rio, mas eu não me preocupei, pois estava próximo a El Tunal, então seria fácil eu achá-lo em um mapa posteriormente, o que de fato aconteceu, porém no lugar mais improvável, foi dias depois no alto dos Andes na divisa com o Chile, no posto do exército, um lugar dos mais secos e quentes do mundo, onde descobri em um mapa na parede que, o rio que salvou aquele nosso dia chama-se Juramento.

Dali ainda rodando pela ruta 16, lá por perto de El Galpón cruzamos novamente sobre o rio Juramento, que serpenteia por ali antes de ser represado no dique El Tunal, porém ali a ponte é pequena e o rio não chama a atenção, logo depois em uma reta sentimos um cheiro forte no ar, como havíamos sentido à noite em 2010, porém agora sob o forte calor, apesar de o sol já estar bem inclinado rumo ao oeste, o odor era mais forte, foi aí que de dia pudemos ver, à esquerda da estrada, em um lugar plano de perder de vista, uma quantidade incrível de bois, seguramente milhares deles, todos com pelagem escura ou marrom, confundindo-se em uma enorme massa naquele gigantesco espaço, um curral com 1 km ou mais ao longo da estrada e de perder de vista, perpendicular a esta indo rumo ao horizonte. Estes milhares de animais confinados deveriam estar ali para distribuição ou para o abate, sendo possível mantê-los vivos com a água do rio próximo, foi o que conclui.  Eu não gostei de ter visto isto, mais um forte argumento para minha rejeição à carne vermelha, cujo consumo evito a alguns anos, seja pelas condições de vida e morte dos animais, seja pela nossa própria saúde, uma vez que, na escala evolutiva os mamíferos, todos eles, possuem já na alma uma forte definição sobre a vida e a morte. Portanto a morte lhes é traumática tanto quanto é para nós, dai que neste momento eles sofrem uma descarga muito grande de adrenalina e outros fluídos que lhes impregnam a carne, carne esta com a qual nos deleitamos posteriormente sem sabermos desta contaminação inevitável e que ao longo dos anos vai se acumulando em nosso organismo, sendo a causa de sérios desequilíbrios físicos.

Passamos direto por El Galpón, onde à noite em 2010 comemos um lanche, felizmente neste dois anos eles tiveram tempo de recapear a estrada neste trecho, sobre o qual agora rodamos sem buracos.  As paredes de pedras no fim da ruta 16, que aquela noite eram vultos iluminados pela lua, agora nos mostram suas faces, bela paisagem, as montanhas que vimos, que na realidade formam a cadeia pré-Andes, ficam entre a ruta 16 e a ruta 9, porém as maiores ao fundo, já são mesmo os pés dos Andes.

 A ruta 16 termina perpendicular à ruta 9 bem em frente aos Serros Nevado e El Creston que escondem atrás de si a região de Cafayate.  Finalmente chegamos à ruta 9, que é uma rodovia larga e de alta velocidade (os Argentinos voam por ali), neste trecho há subidas e descidas e grandes curvas, o que foi um convite para o Zeca por em ação os 81 CV da sua F800, nós que íamos entre 120 e 140 km/h vimos o Zeca dar umas esticadas, sumindo às vezes.
Mas logo começou uma leve chuva, que não molhou quase nada, mas foi um aviso para baixarmos a velocidade.  Fomos assim, meio rápido, até o pedágio que fica 55 km de Salta, onde motos não pagam, mas paramos para um descanso e o André verificar o óleo.
Estava nublado, assim a temperatura estava melhor. Me lembro de um grande cachorro branco que revirava as latas de lixo por ali.  Após uma parada de uns 20 minutos, fomos em frente, a ruta 9 a 45 km antes de Salta passa por uma rotatória, onde ela termina temporariamente, pois volta como ruta 9 após Salta, porém beirando os Andes. Ali na rotatória, seguindo em frente vai-se para General Guemes, e virando a esquerda, em direção a Salta, segue-se pelo acesso Auxiliar RN9, que passa pela usina termoelétrica de Cobos.

O acesso Aux. RN9 é de pista dupla com grandes canteiros gramados no meio e nas laterais, há uma serrinha que se sobe antes da entrada de Salta onde ao final desta há um pedágio (motos não pagam), estávamos em uma reta antes desta serra quando a minha moto virou para a reserva de combustível, porém uns 3 km adiante a moto do André apagou e ele encostou na grama meio desconsolado já dizendo que a moto tinha pifado, aí eu lhe perguntei se ele já estava rodando na reserva, ele me disse que não, então lhe disse, é isto virou reserva e você não viu!  Ele disse que não era possível, pois havíamos abastecido lá atrás, foi aí que eu lhe lembrei que foi lá atrás sim, a 300 km lá atrás!   É fácil a gente perder a noção de distância por lá, é tudo tão imenso...  Bem, agora eu já não me lembro mais se ele só virou a torneira da moto para a reserva ou colocou algum combustível que tinha sobrado em garrafa PET, mas a moto pegou e seguimos em frente, faltavam apenas 20 km para Salta. 

Chegamos a Salta com um céu nublado e entramos pelo acesso da Av. Ciudad de Assunción que termina na Av. Hipolito Yrigoyen, pois eu e o André já sabíamos onde irmos...
Bem onde termina a Av. Ciudad de Assuncion, há um posto de combustível, na realidade dois postos, paramos no primeiro e já abastecemos as motos, gasolina garantida e um problema a menos para resolvermos. Dali passando pela rodoviária de Salta, a 600 m está o hotel LePetit, nós fomos direto para lá e já paramos sobre a calçada em frente ao mesmo, fomos recebidos pelo Ricardo que se lembrou de nós. Aí nós perguntamos se a garagem anexa tinha vaga, e ele respondeu que já havia uma moto e tinha chegado um casal de BMW que pegou a última vaga, aquele casal que encontramos muitas horas antes em Avia Terai, a mais de 600 km de Salta, o André havia indicado o Le Petit a eles.

Eu e André dissemos que não havia problema em as motos ficarem na grande calçada em frente a portaria do hotel, pois é tranquilo e na outra viagem deixamos lá sem problemas, o Magá e o Zeca não gostaram da ideia, então decidimos que eles iriam procurar um outro hotel, porém antes disto o André fez questão de mostrar o interior do Le Petit e verificar o preço, ele disse, isto é a referência para vocês. O Le Petit é um pequeno, porém muito agradável lugar. Então ficamos eu e o André ali na frente do Le Petit, sentados na mureta conversando e apostando que eles não encontrariam lugar melhor.
Depois de algum tempo, nós tomamos a decisão de que nós dois ficaríamos ali mesmo, mesmo que eles arrumassem outro lugar, assim fomos falar com o Ricardo que já nos arrumou um quarto duplo, mas já deixamos um reservado para o Magá e o Zeca também. Assim pudemos tirar toda a bagagem das motos e quando o Zeca e Magá voltaram, nós já estávamos de bermuda, camiseta e chinelos, sentados na mureta em frente ao hotel. 

Ainda bem, pois eles voltaram decididos a ficar ali mesmo. O André e eu sempre fizemos muita propaganda deste lugar, e pelo que o Ricardo nos contou, muitos brasileiros viajando de moto tem passado por lá.  Inclusive, naquele dia, havia além do casal da BMW, um outro casal de brasileiros hospedado, que eram da outra moto que ocupava a pequena garagem.

Levamos bastante tempo arrumando, ou melhor, desarrumando as coisas, e só depois de muito tempo com todos já devidamente limpos e trocados é que fomos sair para jantar. Fomos a pé pela Calle Alvarado em direção ao centro histórico, paramos em uma cafeteria que servia deliciosas empanadas, o lugar tinha além de nós, mais um casal e a atendente, que nos trouxe empanadas ferventes!  Estavam muito quentes e nós com muita fome.


Para regar empanadas muito quentes uma Quilmes!
Ah! claro, também uma Salteña!
Não me lembro se foi na volta do restaurante ou quando antes de irmos jantar, havíamos ido a pé também comprar água mineral, que encontramos o outro casal de brasileiros, me lembro que vínhamos pela calçada quando eles nos alcançaram, e começaram a conversar conosco. Foi aí que ele disse que estava de Suzuki Hayabusa!   Enquanto eu pensava, alguém perguntou como eles fizeram com as bagagens, como prenderam na moto,  esta moto não é para longas viagens, não tem bagageiro, pois é super aerodinâmica, para poder andar a mais de 300 km/h!  Nos contou que adaptou um bauleto de 45 litros, e toda a bagagem deles estava ali, dos dois!   Na minha moto, metade da minha bagagem estava em um baúleto de 45 litros...  Pelo jeito eles jogavam as roupas fora e compravam novas em cada cidade.  Bem, ele contou muitas "estórias", inclusive que cruzou o Chaco andando a 200 km/h quase o tempo todo, bem, moto para isto ele tinha, mas...  Eu não vi a moto dele, por isto não sei a cor, mas julguei deveria estar branca, pois a 200 km/h, certamente ele grudou milhões daquelas borboletinhas brancas em toda a moto.

Fui dormir extenuado, foi um longo dia, cheio de eventos...  Finalmente o descanso merecido, porém com o ar-condicionado ligado, o calor de Dezembro em Salta é sempre o mesmo, durante o dia e madrugada a dentro.

4 comentários:

  1. Fiquei com calor só de ler esse relato, rsrsrs... janeiro de 2014 é minha vez de passar por isso. Motoabraço. Diego Petry Melz, Guarujá do Sul/SC.

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  2. Parabéns pela viagem e por nos deliciar com sua narrativa, mto bom ler, ver e saber lugares onde podemos parar e comer, muito bom e um abraço ao Grande Zequinha...

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  3. Diego e Gustavo, obrigado por acompanharem o blog retrospectivo, abraço!

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  4. realmente esse rio caiu do céu!!
    muito calor e muita água, a combinação perfeita!!

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