quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Dia 26/12/2012 - Rumo à Bolívia (Um caminho ao lado de gigantes).

Nós pagamos a pousada, me lembro que paguei com cartão de crédito, tomamos nosso café e para variar eu tive problemas para amarrar minha bagagem.

Na pesquisa que fizemos sobre o caminho até Ollague, o único lugar onde havia abastecimento era em Calama, depois seriam 350 km sem nada de combustível. O David havia nos dito que em Ollague era possível comprar gasolina, pois havia quem vendia, era só perguntar, mas a que preço?   Bem, montamos a seguinte estratégia, iríamos abastecer em San Pedro, depois iríamos abastecer novamente em Calama, ali sim iríamos encher os galões e garrafas PET de reserva. De Calama até San Cristobal já na Bolívia, só haveria, se encontrássemos, combustível em Ollague, então era melhor prevermos o suficiente para 350 km, caso em Ollague não houvesse, no total seriam, por nossos cálculos no Google Earth, uns 450 km até a cidade do Uyuni, partindo de Calama.




Quando chegamos ao único posto de San Pedro, por sorte, ficamos entre os primeiros da fila, pois o caminhão de abastecimento já estava saindo de lá.  Abastecemos e calibramos os pneus, pois haveria um bom trecho de asfalto, pelo menos uns 120, pois depois de Calama, não sabíamos o que viria pela frente.

Não precisávamos fazer nem imigração nem aduana em San Pedro, pois há o posto de fronteira de Ollague, por onde iríamos nos despedir do Chile.  Depois do abastecimento pegamos a ruta 23 sentido oeste, o mesmo trecho por onde passamos no dia anterior nos passeios aos vales. Subimos a mesma serrinha e eu dei a última olhada para o Valle de La Luna, iluminado pelo sol matinal.  Depois da saída para o Valle de La Muerte é só seguir aquela grande descida. Me lembro que, apesar do sol estar ardido lá em San Pedro, eu coloquei a jaqueta, pois lembrava que neste trecho rumo a Calama, havia um forte vento e também fazia frio em algum lugar no caminho.  De fato, não demorou muito e o Magá parou no acostamento, pois precisava colocar a jaqueta. O deserto é assim, muda do calor para o frio tão fácil, neste caso era devido ao vento e também porque rumo a Calama, a apenas 35 km depois de San Pedro, passamos por um ponto mais alto, a 3500 m de altitude. Este é um trecho com algumas curvas, subidas e descidas, porém a partir dali, descemos em uma linha quase reta por 60 km até Calama, que está a 2300 m de altitude.

Nós ultrapassamos o caminhão do combustível que estava lá no posto em San Pedro, havia bastante movimento na estrada, mas há retas e mais retas, sendo fácil a ultrapassagem. Me lembro de ter passado por um pequeno carro branco, cujo parabrisas havia se quebrado, os dois ocupantes iam lá dentro encolhidos enfrentando o vento gelado de frente.

De San Pedro até Calama, são apenas 95 km, então em menos de uma hora já se chega lá que, está no meio do caminho entre San Pedro e o oceano Pacífico. Calama existe por dois motivos, a mina Chuchicamata (a maior mina de cobre do mundo) e a quebrada do rio Loa. 

Como diz a letra de Blue Sky Mine do Midnight Oil, "And nothing's as precious as a hole in the ground". Bem, aquele de Calama é um gigantesco buraco precioso, a cidade pode existir bem ali ao lado, devido às águas do rio Loa, que vem lá da Bolívia. Porém esta não é suficiente, fica claro isto após Calama, pois o rio Loa perde sua força, transformando-se em um pequeno curso d'água que ruma sentido noroeste, ao seu lado, a uns 5 km mais ao norte, lhe margeia o tímido Rio San Salvador, que nasce aos pés do Serro da Cruz no lado noroeste de Calama. Ambos seguem assim por 60 km, quando finalmente se encontram em Coya Sur, e juntos alimentam timidamente a cidade e a mina de sal Santa Helena, mas depois dali, o Rio Loa segue fraco rumo norte, alimentando Quilagua na ruta 5, depois vira para o oeste tornando-se um leito seco rumo ao Pacífico.

No blog da Rutas y Quebradas I, nós já havíamos falado sobre este problema, ele é tão crítico que, o Chile já propôs à Bolívia lhe devolver uma parte do litoral em troca da região da Laguna Colorada, que dista em linha reta 110 km de Chuchicamata e onde há um lençol de águas subterrâneas. Sei lá, acho que a Bolívia está esperando a coisa chegar a um nível insustentável, pois a cidade de Calama não pára de crescer, então com isto vão valorizar a troca, pois a única coisa que a Bolívia explora na Laguna Colorada é o turismo, claro que existe uma mina, pequena, deve ser de prata (onde fica a aduana Boliviana)  ao sul da Laguna Colorada, bem ao lado dos Geisers Sol de La Mañana.  Bem, não sei se um dia verei o fim desta história, ou seja, a Bolívia voltar a ter um litoral.

Quando chegamos à Calama, errei a entrada, pois queria fazer a mesma de 2010, para podermos abastecer naquele posto Petrobrás, onde há uma pizza muito boa também. Calama tem duas grandes rotatórias, pois é o ponto de convergência das rutas 25, que vem de Antofagasta, 23 que vem de San Pedro, 24 que vai em direção ao litoral em Tocopilla e a ruta 21 que sobe para Ollague e entra na Bolívia. Estas duas rotatórias distam 3 km entre si, entramos na primeira que desce para a Av. Circunvalación ao invés da segunda que dá acesso a Av. Almirante Grau, como o trecho que pegamos não tinha retorno, acabamos indo rumo sul. Não é fácil sincronizar todos quando número de motos aumenta, e nós não havíamos conseguido mais "parear" os intercomunicadores no grupo, estávamos nos comunicando apenas dois a dois. Acabamos passando ao lado do aeroporto de Calama, da avenida dava se ver alguns Airbus A-320 da Lan Chile. Na rotatória do aeroporto, que tem uma estranha estátua de ferro, construída com peças antigas de maquinário das minas, viramos à direita apontando para dentro da cidade. Fomos seguindo a avenida Libertador Bernardo O'Higgings que passa sobre o rio Loa, é movimentada e que fazia algumas curvas, quando vimos o primeiro posto de gasolina, era Shell, entramos lá.


Ferrillo, o monumento na rotatória do aeroporto de Calama
Nem preciso descrever o quanto me enrolei com a minha bagagem, pois como meu combustível extra, ia todo na mala de banco, debaixo do saco estanque. Tive que tirar tudo, para poder colocar ali três garrafas PET com gasolina e mais uma que coloquei em cima de tudo. Demoramos um bocado neste abastecimento, o pessoal que trabalhava no posto era jovem, um rapaz e duas meninas, eu aproveitei para lhes perguntar sobre Ollague, mas elas não sabiam, nem ele, ninguém conhecia Ollague!  Então me lembrei da regra do viajante, quando uma referência for distante, tente outras intermediárias, lhes perguntei sobre Chiu Chiu, na hora o rapaz falou, é perto!  Segundo ele era só voltar até o Aeroporto, virar na rotatória sentido norte e seguir em frente, ou seja, fazer de volta o caminho que fizemos até ali. Me disse que era asfalto até Chiu Chiu, e que não tinha posto de gasolina lá, nisto passou pela avenida uma KTM 990 laranja, elas chamam a atenção. Bem, estávamos com os tanques cheios, reservas também, tínhamos água, então era só seguirmos, o que viria depois de Chiu Chiu, não sabíamos. Me lembro que na saída do posto, havia a sombra de uma árvore, ali muitos cachorros de rua ficavam deitados, havia um pote com água, pelo menos alguém cuidava deles. Esta entrada pelo sul da cidade é feia, mas a quantidade de prédios sendo construída era enorme, grandes condomínios e pelo visto grandes prédios de escritórios também.  Infelizmente, mais uma vez não visitamos o centro de Calama, entramos e saímos pelos fundos. Na realidade havíamos entrado na rotatória certa, pois era aquela mesmo que dava o acesso à ruta 21 que passa ao leste da mina Chuchicamata, pelos fundos desta, pois as portarias e acesso principal, ficam na ruta 24, uns 5 km para o oeste, onde passamos em 2010.  Mesmo passando pelos fundos da mina, dava para ver as instalações e parte do maquinário e as tortas de rípio, que são montanhas de sobras de terra removidas de dentro da mina.

Até Chiu Chiu, são 38 km apenas, do total de 203 km até Ollague que, é quase a metade dos 450 km até a cidade do Uyuni. Claro que não tínhamos combustível para chegarmos em Uyuni, mas tínhamos para chegarmos a San Cristobal, caso não houvesse gasolina em Ollague. As DRs estavam fazendo uns 17 a 18 km/l na altitude, desta forma a autonomia do tanque normal de 15 litros, cai de 320 para 270 km, por isto tínhamos mais 6 litros extras que nos permitiriam cobrir os 150 km de Ollague até San Cristobal. O Zeca e o Magá, com as motos com injeção eletrônica, estavam dando risada, pois a 660 do Magá foi regulada para a altitude lá em Salta, já a F-800 do Zeca se regula sozinha e fazia com folga, mais de 25 km/litro.

O asfalto até Chiu Chiu é bom e sinalizado, no meio do caminho há um pequeno salar à esquerda, onde há um tanque de captação de água salgada, na falta de, serve para alguma coisa, é o Salar de Talabre, mas não se vê grande coisa da ruta, depois disso é só um plano de areia para todos os lados.

O planalto após Chiu Chiu, nada para lá... (foto Zeca)
Nada para cá... (foto Zeca)
Agora sim, tem o Zeca!  (foto Zeca)
Chiu Chiu fica em uma quebrada na confluência dos rios Loa e Salado, é pequena, nós nem entramos na cidade, pois a ruta que margeava o rio pela esquerda, passa sobre este em uma pequena ponte e sobe por fora da cidade, agora margeando o rio pela direita. É importante lembrar que por ali quando se fala de rio, o que se vê em geral é um vale com algo verde dentro, mas água mesmo pra valer, nada. Para nossa surpresa,  havia ainda asfalto após a cidade, claro que não mais como uma estrada, com sinalização, mas aquele asfalto estreito e básico, só para tapar o pó. Depois de Chiu Chiu, tem uma reta de 20 km de comprimento cortando um planalto seco que vai subindo levemente de 2700 para 3000 m de altitude. O divertido dela é que é ondulada, então a moto sobe e desce o tempo todo, isto prejudica a visibilidade à distância, fazendo com que a vontade de acelerar tenha que ser contida, mas o Zeca deu umas esticadas. No fim desta reta, há uma curva para a direita, bem ali no lado esquerdo há uma represa, é o rio Loa que por conta de um dique dentro de um cânion, acumula água. Sobre este mesmo cânion, está a ponte mais alta do Chile, chama-se ponte Colchi, ela permite que uma saída da ruta 21, passe sobre o cânion e de acesso a mina Abra. Da ruta dá para ver pouco, pois a represa dista 1.5 km da via e naquela imensidão não se tem a correta noção do tamanho das coisas.  A apenas 2.5 km desta curva o asfalto termina e descemos para passar por dentro da pequena quebrada de San Pedro, onde há uns grossos canos de água vindos do leste, mas na quebrada não há vegetação, é como se tivessem lhe roubado toda a água. Quando saímos da quebrada, subindo do outro lado já estamos a 3300 m de altitude.  O asfalto não é mais o mesmo, havendo muitos buracos aqui e ali, mas depois de umas curvas, começa uma linda reta de uns 5 km, onde à esquerda vê-se uma interessante elevação em forma de trapézio, à distância parece que foi perfeitamente desenhada com uma régua gigante.  Esta elevação é o "mini" vulcão Puruna, sim é um mini vulcão, pois segundo descobri depois, é o mais jovem dos Andes, e foi considerado o menor vulcão ativo do mundo, pois aquele cone perfeito tem só 100 m de altura, mas hoje sua cratera tem apenas areia e pedras, porém quando ativo ele deixou ao seu lado sudoeste uma cauda de lava endurecida de 7 km de comprimento por 3 km de largura.  A ruta 21 faz uma curva, justamente para desviar dele, assim ela passa a apenas 300 m do seu lado leste.
Nós paramos ali, bem ao lado, daria até para ir lá, mas não foi este o objetivo da parada, paramos para tomar água e  fazer um xixizinho básico, foi aí que o André foi brincar de tirar foto segurando uma das muitas pedras marrons à beira da estrada, quando ele foi fazer força para pegar uma, descobriu que era leve!  Tudo aquilo ali são despejos vulcânicos, as rochas são porosas, como se fossem um Suflair. Havia também umas pedras negras, eu peguei uma pequena de souvenir. No nosso lado direito estava o vulcão San Pedro, que tem 6145 m e é ativo, junto dele estão os vulcões San Pablo, Paniri, Inacaliri, Azufre e Cerro Leon.



Aquele ali é o pequeno Puruna! à direita a cauda de lava


Um dos gigantes, San Pedro ou San Pablo

Assim é o asfalto da ruta 21 após Chiu Chiu, bem lá na frente vira rípio
No leste, atrás desta cadeia vulcânica, estão os desertos de Siloli e Salvador Dali, a apenas 50 km de distância em linha reta, do outro lado dos gigantes. Seria onde nós iríamos dormir, no hotel de deserto Tayka, após a Laguna Colorada, caso tivéssemos ido pelo Paso Hito Cajón...

Continuando na ruta 21, a mesma continua a subir levemente, faz algumas curvas para contornar a cauda rochosa do Vulcão San Pedro, e cruza com a linha do trem, pois esta vinha margeando a estrada pelo lado esquerdo. Só que agora a ruta 21 não era mais asfalto, o rípio começou, então umas escorregadinhas aqui, outras ali, mas nada muito tenso. A 34 km adiante e a 3965 m de altitude, está o posto de controle de Ascotan, bem na entrada do grande Salar com o mesmo nome.  Este Salar tem 32 km de comprimento por 18 km de largura no seu trecho mais largo, está emoldurado pelos vulcões Ascotan, cuja cratera ruiu, e Cerro Araral, bem atrás deste, está lá no lado boliviano a Laguna Hedionda.  Nós paramos no posto, que é só uma guarita com uma cancela, o soldado nem saiu de lá, só perguntou para onde íamos e pronto. Foi aí que eu perguntei se tinha um banheiro, pois estava louco para fazer um xixi, ele me disse que não tinha, e falou faz por aí...  Ok, se ele autorizou, então fui regar a roda de uma grande motoniveladora estacionada ali, aliás há também vagões de trem e uma antiga locomotiva a vapor, além de duas pickups Hilux destruídas, uma capotada e a outra queimada, ambas foram recolhidas para lá.



O posto de controle de Ascotan (foto Zeca)
Fiz xixi na roda daquela motoniveladora, autorizado!
Viva Chile!
As "meninas" a nossa espera (foto Zeca)
Desde há muito tempo, trens circular por aqui
Mas pickups destruídas, e veríamos muitas outras mais
Depois da cancela do posto, há uma descida cascalhenta, onde há uma grande placa amarela dizendo para não sair da estrada, pois ambas as laterais são "campos minados". Pois é, resquícios das antigas brigas entre Chile e Bolívia, que hoje felizmente não é mais assim, porém estas armas ainda estão lá, espalhadas na areia, prontas para matar ou mutilar alguém que nada tem a ver com isto.


Após o posto de controle (foto Zeca)

Isto é de verdade! Infelizmente...
Só por que eu ia dar uma saídinha da estrada!
Lá ao fundo o vulcão Ascotan, atrás dele o deserto de Siloli na Bolivia
Não sobrou nada da carreta, uma longa descida e uma curva forte...
Água, um bem precioso por aqui



Foto Zeca
Margeando o Salar de Ascotan
Esta descida baixa a ruta em 200m, pois o salar está a 3750 m de altitude, então a ruta vira para a esquerda em uma curva abrupta, ali está o povoado Cebollar, onde bem ao lado da igreja estão os destroços de uma carreta que varou a curva e se desmanchou nas areias. Por pouco, muito pouco não destruiu a igreja, mas sabe né...  Depois dali, mais a frente há uns acampamentos de trabalhadores, na lado esquerdo e no lado direito uns locais de captação de água verde.

Bem ali já se está no nível do Salar, e vê-se a linha férrea cortando o lado esquerdo, segue-se por 35 km margeando o Salar, hora com um chão batido, hora com um rípio solto. Quase no final do salar a ruta encosta na margem e ali há um ponto lindo, onde os fugidios Guanacos ficam mais próximos, e também há o espetáculo dos flamingos cor de rosa.

Nós saímos da ruta e fomos cortando o chão duro de sal coberto de terra, conseguimos parar bem na margem do salar, que ali, devido à umidade, pois há um espelho d'água, os flamingos se alimentam. Botamos os zoom das máquinas para funcionar. Lá ao fundo, o vulcão Cañapa emoldurando o horizonte, divisa com a Bolívia, enquanto às nossas costas o vulcão Palpana fecha o imenso vale.   Nós ficamos um bom tempo por ali, vendo a fauna e o trem cruzando o salar, este trem liga as cidades do Uyuni e Calama, transportando minérios. Apesar do sol ardido, fazia frio devido ao vento gelado.


Em pleno verão!
Você viu aqueles caras esquisitos lá?
Esta foto não é do Guanaco, é do trem cortando o salar lá ao fundo!
Só para ter uma ideia de onde estávamos
O André e o Salar de Ascotan



Vem cá benzinho!

Melhor não! tem um monte de gente olhando...

Aqueles "boludos" cortaram nosso barato!


O Zeca e o vulcão Cañapa

O chão é um sal duro

Eu e o vulcão Ascotan
Pensa que dá para andar lá?  Não dá não!





Eu não me lembro de que eu estava reclamando, mas o Zeca tava atrás tirando sarro

Como diz a Sueli, tava mangando de mim é?
O vulcão Palpana





Guanaco, um bichinho protegido no Chile
A poderosa (foto Zeca)
O Zeca e o Salar de Ascotan (foto Zeca)
foto poética  (foto Zeca)
Saímos dali e já pegamos uma subida, que era bem visível de onde estávamos, subida de cascalho solto, eu quase caí umas duas vezes, tive que me virar no equilibrio e acelerar, mas depois desta subida uma surpresa!  A ruta faz uma curva para a esquerda e a 3900 m de altitude se abrem as cortinas do Salar de Carcote, perfeitamente plano, que se estende por mais de 15 km a 300 metros abaixo daquele ponto de visão, é lindo.  Aí a ruta vai até a borda do desfiladeiro, vira para a direita e começa a descer tendo ao lado direito uma parede de rochas e areia de 200 m de altura, do outro lado uma queda de 200 m em direção ao salar.

O visual é de tirar o folego. vê-se a linha férrea perfeitamente reta cruzando o salar por 13 km. A linha vem diretamente em direção ao pé da montanha e sobe paralela a ruta uns 100 m abaixo.

A descida é perigosa, pois no inicio é larga, mas cascalhenta, depois ela vai se estreitando mais abaixo, e há para variar, calaminas e poços de areia. O Zeca nestas situações acelera, pois equilibra a moto, então ele esticou na frente, enquanto eu fiquei bem para trás me equilibrando devagar, são técnicas diferentes.  Lá embaixo já nivelada com o salar, a ruta fica estreita, quase passa só um carro, foi bem ali que o Zeca descobriu que o suporte dos baús havia quebrado novamente, apesar da cara solda em San Pedro. Ele estava desolado, foi aí que o André teve um insight, pois observou que a rigidez do mesmo era o motivo dos rompimentos constantes, então pegou um ou dois elásticos (aranha) e começou a amarrar o suporte com várias voltas, de forma a prender sem deixar muito rígido. Ficou bem firme, e por incrível que pareça, a partir daí, apesar dos terrenos piores que pegamos à frente, não mais se soltou!  Me lembro que parados ali naquele baixadão, o sol e o calor eram muito fortes, a apenas uns 10 km atrás estávamos com frio devido ao vento.

A ruta cruza por uns 5 km dentro do salar, na sua borda oriental, onde já se avista o gigante vulcão Ollague, dali são só mais 20 km para a chegada no povoado de Ollague, claro que a ruta é um rípio bruto.


Isto é imenso! dali da borda da estrada etá lá em baixo são 300 m de altura!
Isto é gigantesco! Salar de Carcote
Não se vê, mas 100 m abaixo, colada na parede, sobe a linha do trem
Agora sim, lá no fundo, no nível do Salar de Carcote
Olhando para trás, dá para ver a gente descendo?
Ollague tem, segundo consta em uma placa, 256 habitantes, mas difícil é ver algum deles. Este povoado é uma estação de manutenção de trens e também ponto de fronteira, com aduana e imigração. Quem vem do sul como nós, chega em uma bifurcação, à esquerda sai para a ruta B-15A que vai sair, sabe só Deus como, lá na ruta 5 abaixo de Iquique, à direita entra-se no povoado rumo a fronteira com a Bolívia. Logo à frente tem-se a opção de cruzar a linha férrea, mas nós seguimos pela direita mesmo, tudo deserto, apenas lá longe um homem carregava um cachorro no colo, cruzou a rua e sumiu. No lado direito da rua, uma sequência de casas muito simples, todas fechadas. Em uma delas havia uma placa "Hostal El Tambo", mas fechada também. Parei na porta e vi pela janela de vidro que havia uma televisão ligada lá dentro, então bati na porta até que uma menininha de uns 5 anos no máximo atendeu. Perguntei se tinha vaga, ela respondeu que não, mas desconfiei que ela não tinha me entendido, então perguntei pela sua mãe, aí ela foi chamar a "señora", era assim que todos a tratavam ali.  A señora, muito séria e decidida, resolvia tudo rápido, nos disse que tinha alojamento e comida, também que podíamos estacionar as motos lá nos fundos, nos disse para seguirmos a rua e virarmos à direita onde desse, ela estaria lá nos fundos esperando. 



A entrada de Ollague, vindo pelo oeste


A porta da Pousada
olhando para o leste
Atrás do galpão há aquela estranha construção em forma de tatu!
Olhando para o norte
Uns 50 metros à frente havia uma saída larga de areia que dava no nada de frente para o vulcão Ollague, fomos então contornando por trás das construções e coisas jogadas  fora por ali, até que vimos um grande portão aberto. Era um quintal com altos muros de pedras, entramos com as motos e paramos todas na lateral com sombra. Fui lá ajudar a senhora a fechar o grande portão de duas folhas. No quintal, havia de tudo, madeira, ferros, ferramentas, grandes parafusos de linha de trem, latas e uma pata, isto, uma patinha branca, que ficou meio assustada com nosso movimento todo.

A visão era surreal, aquele terreno bagunçado, com muros de pedras, uma pata e o vulcão Ollague bem de frente com sua constante fumarola branca.

O quarto que ela nos indicou, tinha dois beliches, um banheiro com uma claraboia, que deixava a luz do sol entrar, mas no quarto mesmo, não tinha janela, as paredes internas eram divisórias de madeira. Como era pequeno, foi meio complicado colocarmos as nossas coisas lá, por isto alguma coisa ficou lá nas motos, o portão ficou fechado. Entre a porta da frente e a porta dos fundos, havia um corredor, com os quartos dispostos de um lado, um refeitório até grande e uma cozinha bem montada e limpa, aliás apesar de muito simples, a pousada era limpa. 


Os fundos da pousada, lá atrás o vulcão Ollague
A patinha, depois ficou minha amiga

A rua da pousada
Indo para lá a Bolivia
Como era já meio para fim de tarde, estávamos com uma fome daquelas, quando terminamos de colocar nossas coisas no quarto, demos com a senhora e mais uma outra mulher no corredor, ambas com avental e lenço branco. A outra mulher, com uns 30 anos no máximo, chama-se Maria, era comunicativa, nos disse que iriam preparar a comida, foi aí que alguém pediu se era possível elas prepararem um macarrão.

Elas conversaram entre si e uma delas saiu com uma sacola nas mãos enquanto a outra já preparava algo em uma grande panela. Nos disseram que iria demorar algum tempo, então decidimos ir lá fora "conhecer" as cercanias. Em frente a pousada estende-se um enorme pátio com trilhos e vagões de trem, alguns bem velhos e abandonados, do outro lado está a estação vazia, onde havia apenas um quadriciclo verde parado, mas ninguém apareceu.

Quem apareceu foi um grande cachorro preto, muito amigo e que depois de uns afagos passou a nos acompanhar, mas ele estava machucado, foi aí que entendemos que ele havia brigado com o outro cachorro que vimos no colo daquele homem que sumiu.  Ficamos por ali andando e fotografando, enquanto o Magá e Zeca se concentravam nos vagões, eu e o André nos focamos na estação, nos grandes tanques metálicos de água, que aliás vazavam. Depois fomos até o posto do exército chileno, em frente a este mais uma pickup destruída, e como sempre, capotada. Dentro dela ainda havia alguns pertences dos ocupantes, era da Codelco a mineradora estatal chilena, Corporación Nacional del Cobre.  Na porta do posto do exército, havia uma pequena capelinha de madeira com imagens e uma luz dentro, representando uma vela. Nós batemos na porta e um senhor muito educado nos recebeu, pediu para entrarmos e nos fez sentar em confortáveis poltronas à frente de sua mesa. Muito prestativo, nos informou sobre o horário da imigração e aduana, do estado da via até o Uyuni, bem como nos confirmou que havia um posto de combustível em San Cristobal, uns 150 km distante dali. Saímos agradecidos, nos desejamos mutuamente um feliz 2013, que já se aproximava.






podia ter andado, pois ninguém apareceu por lá


O cachorrão
Dois gigantes nesta foto, o trem e o vulcão!





Ele e o André ficaram amigos

Mais uma totalmente destruída
O rípio convida a correr, mas saiu do trilho, dá nisto!
A oficina de trens, havia alguns la dentro



Nisto encontramos o Zeca e o Magá, fomos então caminhando para trás do grande galpão amarelo, onde pelas frestas das portas vimos trens lá dentro, eu tava doido para entrar lá, o André também, mas infelizmente estava tudo muito bem trancado. Tiramos umas fotos da capelinha atrás deste e fomos voltando para a pousada, o sol já estava apontando para o horizonte.




O Zeca trocou de brinquedo
Godzila!

Dois gigantes


O cachorrão amigo


Vamos jogar bola?  nem pensar...
O Zeca e eu



O Zeca e o Ollague (foto Zeca)
Eu  (Foto Zeca)
A igreja de Ollague (foto Zeca)
Foto Zeca
Foto Zeca
Foto Zeca
O  dia acabou (foto Zeca)
linda foto (foto Zeca)
Quando chegamos lá, nos assustamos, pois havia um panelão gigante sobre o fogão, bem como outras panelas, nós achamos que havíamos exagerado no pedido, mas na realidade mais gente estava por vir, e logo uma pickup com alguns trabalhadores encostou na frente, depois apareceram outros. Eu fiquei preocupado com a pata, pois ela bem que cabia naquela panela, então fui lá fora conferir, ela estava bem, e até não fugiu de mim, quando me aproximei.

Além do spaghetti, elas haviam preparado uma bela sopa, e nós comemos muito, apesar da altitude, 3700 metros, mas para quem havia comido só pela manhã, não teve jeito.  Depois da janta, fomos lá fora, quer dizer, tentamos, pois um vento gélido nos fez voltar rapidinho. A ideia era irmos procurar quem vendia gasolina, mas desistimos. Foi aí que entendi o porque de a porta da frente ser protegida com dois muros laterais, bem como o porque de os quartos não terem janelas. Apesar de estarmos em Dezembro, em pleno verão, como fazia frio quando o sol se punha.  A senhora, me disse que no inverno eles ficam sem água, pois os canos congelam, é difícil ter água para beber e cozinhar.



O jantar, muito bom! 
Sopa de Lhama, eu acho
E também spaguetti
De pata não era, fui conferir, olha ela aí
Visão surreal, não é Zeca?
O poderoso Ollague, à direita é fumarola subindo!
Bem, tratamos logo de nos revesarmos no banho, e logo não havia mais o que fazer se não tentar dormir.  Claro que subir naquele beliche não foi fácil, demos muitas risadas das trapalhadas que eu fiz para ir para o meu canto, depois claro, não podia sair mais de lá, porque o quarto era um breu só, um movimento em falso e haveria algo quebrado. Nem preciso dizer o frio que fez não é ?

Um comentário:

  1. Ollague é muito bonito, o olhar "prá cá" e "prá lá" é que conta! vc diz surreal, realmente essa é a palavra, um lugar assim, com vulcões e as cores e o céu incrivelmente azul, é demais!!

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